[ANSOL-geral] O tema software (livre) na campanha eleitoral

Ricardo Pinho ricardodepinho gmail.com
Sábado, 5 de Outubro de 2019 - 11:09:46 WEST


Caríssimos sócios e simpatizantes,

Terminada a campanha e em tempo de reflexão, pus-me a reflectir sobre um
facto que constatei durante os debates que tive a oportunidade de assistir
(tv, radio,...):
"*O tema de software (livre) não foi abordado em nenhum debate eleitoral a
que assisti.*"

E tal como constatou o Marcos, dos 22 partidos *apenas em 5 deles a palavra
software consta no programa eleitoral*:
https://twitter.com/mind_booster/status/1178097420158341120

Isto levanta-me uma série de duvidas que tomo a liberdade de partilhar aqui
convosco para reflexão:

1. *Será o tema "software" assim tão irrelevante na vida das pessoas*, para
o desenvolvimento da sociedade, até económico, para a resolução dos
problemas do país, da sociedade e do mundo, etc, *que não seja motivo de
debate das políticas para o software (apresentadas) pelos
partidos/candidatos?*

2. *Será o software um assunto tão restrito e técnico que os partidos
políticos desconhecem*, não têm noção, nem ideias formadas sobre políticas
necessárias para essa área, *e os seus lideres políticos não se sentem
capazes nem com necessidade para o debater*?

3. *Será que não existem problemas, danos e correcções à industria do
software que o Governo de um país não tenha o dever e a capacidade de
actuar*, com medidas correctivas, de melhoria e de protecção dos cidadãos e
até da economia?

4. *Ou será que com o software está tudo bem*, a correr sobre rodas, na
perfeição?

E muitas mais...

Apesar de ser um cidadão que dedica especial atenção à área do software,
correndo o risco de ser chamado de tendencioso, devo deixar aqui alguns
argumentos para *contrariar esta ideia errada que os políticos nos
transmitem de:*
*"o tema do software não é relevante, nem prioritário, nem digno de debate
em campanha eleitoral"*

De forma resumida para não alongar muito a mensagem:

1. *Hoje é inegável que o software está em todo o lado e faz parte
imprescindível do dia a dia de qualquer pessoa, empresa, negócio,
instituição, etc.* E como tal tem uma influencia massiva na forma como as
pessoas, empresas e instituições resolvem os seus problemas, interagem e
satisfazem as suas necessidades.

2. *A industria do software (tecnológica) move biliões, com negócios
assentes em direitos de autor e licenças proprietárias, *de tal forma que 5
dos 8 mais ricos do mundo são da chamada área tecnológica (software). Este
facto só por si demonstra o defendido por muitos, que esta indústria é mais
causa para o agravamento das disparidades crescentes na distribuição de
riqueza no mundo e o agravamento do fosso entre ricos e pobres. (migrantes!)

3. *A dependência tecnológica que impõe e subjuga ao uso de software das
grandes multinacionais, pelas pessoas, empresas, instituições e estados, é
um reconhecido, grave e perigoso problema*, que decorre dependência gerada
pelas licenças proprietárias de software. São já inúmeros os casos julgados
e condenados de abuso de posição dominante destas multinacionais de
software, com reconhecidas consequenciais nefastas para todos, para a livre
concorrência e desenvolvimento (reflectidas em parte nos valores
elevadíssimos das multas impostas).

4. *O software é um inexplicável caso onde o investimento de dinheiro
publico na produção e desenvolvimento de um bem ou produto fica na
propriedade privada*, sendo isto aceite pela sociedade, parlamento e
estado, contrastando com qualquer outro bem ou produto, como estradas,
infraestruturas, edifícos, equipamentos públicos, obras de arte,
literatura, investigação, etc.

5. *São cada vez em maior numero os Estados e Governos que implementam
políticas, legislação, etc para regular a industria de software, no sentido
de promover a interoperabilidade, a independência tecnológica e a adopção e
investimento prioritário em software livre (de domínio público)*. Em
Portugal, os governos muito pouco ou nada têm feito nesta matéria e
portanto haveria uma grande oportunidade e facilidade em propor políticas
nesse sentido pelos candidatos, nas campanhas eleitorais.

E muito mais...

Mas dirão alguns:
epá, o cidadão comum não está por dentro destas temáticas e não são capazes
de entender estes assuntos e a sua importância, designadamente na
influencia directa que tem na sua vida.

Pois é exactamente esse o papel do político: transmitir, explicar e cativar
o cidadão para uma determinada orientação e rumo (solução) a seguir.

Umas pequenas dicas para os políticos:

- *O "sistema em baixo"*, é uma daquelas dores de cabeça cada vez mais
frequentes para o cidadão, mas que também afecta gravemente a vida e o
desempenho das empresas, dos serviços públicos, médicos, emergência médica,
protecção civil, etc. padecem todos os dias com esta doença crónica dos
sistemas informáticos. Que se tornaram hoje mais um empecilho do que uma
ajuda!

Alguém (politico) se preocupou em perceber e procurar uma solução? Ou
esperam que as pessoas se conformem e acabem por aceitar esta aberração
tecnológica, como "é mesmo assim, temos de esperar que o sistema volte a
funcionar!", ou "volte amanha, pode ser que o sistema esteja a funcionar!"

Existem tantas evidencias, mas não vi ninguém nesta campanha a falar em
nenhum deles, só para mencionar um, o SIRESP, um caso flagrante de sistema
proprietário e de dependência tecnológica do estado para com
multinacionais: Altice, Motorola, etc cujo "sistema em baixo", custou a
vida de dezenas de Portugueses.


Um contributo de um cidadão que se preocupa.
Quem quiser que acrescente mais e melhor, acredito que é fácil!

E termino com o apelo a que todos exerçam o dever cívico de ir votar, por
mais não seja por respeito aos que tanto lutaram por isso!!!
Nunca devemos dar por adquiridos os direitos que temos, devemos sempre
lutar por mantê-los todos os dias.

Com os melhores cumprimentos,
-- 
Ricardo Pinho
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