[ANSOL-geral] Mais um disparate sobre pirataria
Rui Maciel
rui.maciel gmail.com
Segunda-Feira, 14 de Maio de 2012 - 20:32:51 WEST
On 05/13/2012 09:39 PM, André Esteves wrote:
>>
> Qualquer «backup» de uma obra é de uso legítimo porque é uma cópia
> privada, independentemente do meio para que for.
Só um pequeno reparo: a cópia não seria privada, mas sim para uso
privado. Este detalhe é importante, pois aos olhos da lei a obra é
independente do meio em que é reproduzida e o que realmente interessa
legalmente é o uso que é dado à obra.
> Eu tenho 3 cães em casa que já me destruiram 5 livros e 3 dvd's. Para
> proteger o meu acesso à obra, apesar dos pequenos percalços canídeos,
> tenho o direito de fazer uma cópia da obras.
Sim, toda a gente tem o direito de reproduzir obras as vezes que quiser
e da forma que quiser, desde que o faça para uso estritamente privado.
> O que não entendo, é o que me autoriza a mim a partilhar a cópia privada.
Como disse atrás, a cópia não é privada. A cópia é apenas uma cópia,
uma das várias formas como uma obra pode ser reproduzida.
O que autoriza o André Esteves a partilhar a cópia é a definição de uso
lícito que é dada no artigo 75.º, onde é declarado que «a reprodução em
qualquer meio realizada por pessoa singular para uso privado e sem fins
comerciais directos ou indirectos» é uma utilização lícita da obra e que
a distribuição de exemplares licitamente reproduzidos é, também ela, lícita.
Mas é também importante reter que lá por o uso privado seja lícito, isto
não quer dizer que o abuso seja também lícito. Por isso, se alguém se
pôr a comercializar a reprodução não-autorizada de obras, se a sua
distribuição atingir a exploração normal da obra ou se o uso que lhe for
dado causar prejuízo injustificado dos interesses legítimos do autor
então está a abusar, e lá se arrisca a levar com o martelo do juiz.
> Mais o que distingue eu distribuir sem lucro económico e os chamados
> direitos de distribuição?
O direito de distribuição é uma forma de uso que só o detentor dos
direitos pode autorizar. Se o André Esteves não for autorizado para
distribuir as obras então as obras que distribuir não serão autorizadas.
Mesmo assim, o André Esteves pode distribuir obras sem a autorização do
detentor dos direitos, desde que não abuse nem pise os calos a ninguém.
Por exemplo, se o André Esteves montar um servidor para espalhar uma
dada obra aos quatro ventos então, mesmo se não cobrar nada por isso,
poderá, por exemplo, ser acusado de ter atingido a normal exploração da
obra e/ou ter causado prejuízo injustificado dos interesses legítimos do
autor. E aí o juiz não gosta e poderá atirar o André Esteves para a cadeia.
Em resumo, a lei autoriza o uso, mas castiga o abuso.
Rui Maciel
Mais informações acerca da lista Ansol-geral