[ANSOL-geral]Re: [ANSOL-geral]Entrevista para a revista Visão

Jose' Sebrosa sebrosa arroba artenumerica.com
Mon, 25 Mar 2002 20:09:57 +0000


Ponto de vista giro.  Estou de acordo com a maior parte, mas acho que exageras
algures:


João Mário Miranda wrote:
> 
> O problema não é só os mecanismos de protecção da cópia. Pe=
nso até
> que esse é o menor dos problemas e que é solúvel. Os problemas sã=
o
> outros. Quando compras um livro numa livraria estás a comprar pelo
> menos 3 coisas:
> 
> - conteúdo
> - reputação
> - formato
> 
> Um livro distribuido através da internet não consegue competir com
> um distribuido através das livrarias a nível do formato e da
> reputação.
> 
> A reputação é o elemento chave do problema. Um livro publicado em
> papel ganha automáticamente a reputação média de "um livro publ=
icado
> em papel" que é muito mais elevada que a de um livro não publicado.
> Se o teu livro for colocado numa posição de destaque então ele
> ganha ainda mais reputação e passa a ter a reputação de "um liv=
ro
> em destaque numa livraria".


Concordo que o livro em papel tem mais "status", mas mais para quem compra do
que para quem publica/vende.  E' bem mais confortavel ter um livro bem
encadernado (ou mesmo mal) do que ter um monte de folhas impressas soltas, e
ler no ecran nao da' jeito nenhum (alem de ser dificil levar o ecran no bolso
para o autocarro, ou para sitios mais, err... solitarios... :^) ).

O status de quem publica e' adquirido atraves de outras informacoes.  Eu passo
a ter em alta consideracao um autor se ouvir as pessoas elogia-lo,
especialmente se forem pessoas em cuja opiniao eu confio.  Isto funciona, por
exemplo, com os criticos de cinema.  O meio onde eu me movimento para recolher
essas opinioes tb e' importante.  Se me chegarem opinioes favoraveis dum
e-livro, nao e' pelo e-  que eu o vou desprezar, tal como nao e' pelo formato
papel que eu vou ter em consideracao uma coisa completamente desconhecida.  Mas
pode ser que eu nao seja um caso tipico do ponto de vista estatistico, nao faco
ideia.

> Se um livro for publicado numa livraria, eu sei que ele foi escolhido
> de entre muitos potenciais livros e que alguém resolveu investir
> milhares de contos nele.  O mesmo se passa com a publicidade
> televisiva. Porque é que a publicidade televisiva funciona? Porque os
> anuncios televisivos são caros, e se alguém gasta milhares de conto=
s
> em anuncios deve estar no negócio a sério e o produto não deve se=
r
> totalmente mau.

Nao concordo nada com isto.  Nao e' por gastarem cabazes de dinheiro que as
pessoas ganham credibilidade.  Pelo contrario, os recursos que elas gastam
arriscam-se a ser comparados com a coisa que de facto esta' a ser anunciada,
gerando uma risota geral.

A televisao funciona por uma razao completamente diferente:  Funciona porque e'
vista, vista, e vista, e vista, uma e outra vez.  Se nao leste, le o Marketing
de Guerrilha para ver algumas coisas sobre os efeitos da repeticao duma
mensagem (o livro e' antigo, se calhar ha' coisas recentes melhores, nao sei).


> Claro que estas heuristicas nem sempre funcionam.
> Os maus livros podem aproveitar o sistema para enganar o comprador.
> 
> Na internet, um bom autor desconhecido não se distingue de um mau
> autor desconhecido, pelo que o que um autor deve fazer é ganhar
> reputação. Só que a reputação é cara. Tem que ser ganha à=
 custa de
> cópias grátis. A falta de mecanismos de protecção funcionam a
> favor da reputação do autor. Se funciona a favor da bolsa do autor,
> depende da reputação que o autor já atingiu. Autores com níveis
> de reputação diferentes devem adoptar estratégias adequadas ao se=
u
> caso.


A reputacao e' ganha atraves da publicidade boca a boca (email a email), em
foruns, etc..  Em suma, e' ganha em todo o sitio em que as pessoas se encontrem
para comunicar.  Por exemplo, ja' deves ter recebido mails de amigos a
recomendar um site, um e-texto, um e-autor, uma e-anedota, etc.  Atraves dessas
recomendacoes, os autores das coisas em causa ganharam reputacao perante ti.


> Também não é certo que o modelo proprietário tradicional seja o
> modelo "evolucionariamente estável" na internet. Projectos como
> a wikipedia e o Projecto Gutenberg indicam que o modelo proprietário
> poderá ficar limitado a nichos especializados. A partir do momento
> em que os conteudos livres com licenças virais atinjam uma dada
> massa critica, será muito mais racional a qualquer autor usar
> conteudos livres como base para um novo projecto do que recomeçar
> tudo de novo.


Eu quanto escrevi a msg anterior estava a pensar em autores de romances, em
pessoas cuja profissao e' ser escritor.  Para esses, a importancia dos
conteudos livres nao existe.  Suponho que te estas a referir essencialmente a
livros tecnicos.  Ai' sim, o acesso aos conteudos e' importante, mas tambem
sucede que o autor de livros tecnicos costuma ter uma profissao diferente da de
ser autor.  Costuma ser professor, investigador, engenheiro, etc..  Ou seja,
para ele nao se poe tanto o problema de receber receitas directamente das suas
obras, e ate' as pode usar como pub para aumentar o prestigio - e rendimento -
da sua profissao/carreira principal.


Sebrosa