[ANSOL-geral]Software proprietário e organismos públicos

Andre Esteves aife arroba netvisao.pt
Sat, 26 Jan 2002 20:41:05 -0500


Em Sexta, 25 de Janeiro de 2002 10:56, escreveste:
> Caros amigos,
>
> Antes do mais gostaria de apresentar-me.  O meu nome é Ricardo Martins
> e tenho 20 anos. Estudo Ciência de Computadores na Faculdade de
> Ciências do Porto, uso o sistema operativo GNU/Linux desde 1997 (antes
> usava o NetBSD 1.2.1) e esporádicamente o GNU/Hurd (desde 2001).
> Presentemente, e em conjunto com um amigo alemao estou a desenvolver
> um backend para o SANE (GNU/Linux) (com as respectivas "drivers") dos
> scanners HP 3300c, HP 3400c, HP 4300c e Agfa Touch.
> Sou um crente e assíduo frequentador da Igreja do Santo EMACS :)
>
> Devo confessar que só tomei conhecimento da ANSOL por intermédio do
> site da FSF Europe, e há relativamente pouco tempo.
>
> Escrevo este email para relatar um facto que há muito me incomoda: A
> proliferação de software e formatos proprietários nos organismos
> públicos.
>
> Como o meu pai é Secretário Judicial, (gere os fundos atribuídos a
> cada tribunal, as infra-estruturas, etc...)  conheço razoávelmente as
> estruturas informáticas utilizadas pelos funcionários no seu trabalho
> diário.
>
> Há relativamente pouco tempo o Estado Português, através da
> comunicação social, afirmou que os tribunais Portugueses
> encontravam-se totalmente informatizados e ligados por uma rede (a
> notícia foi posteriormente rebatida pelos funcionários, mas isso é
> outra história). Ora o que é realmente constrangedor é o facto de
> *todo* o software utilizado ser proprietário:
> - o sistema operativo utilizado em cada computador é o Windows da
> Microsoft (nas suas variadas encarnações);
> - as ferramentas de edição de texto, folhas de cálculo, base de dados
> são as que vêm com o Office da Microsoft (também nas suas variadas
> encarnações);
> - as redes (internas e externas) foram implementadas sobre o Windows
> NT;
> - o software para leitura/envio de correio electrónico é o Outlook da
> Microsoft (um dia o meu pai tinha mais de 80 mensagens de email com os
> mais variados "vírus" de email que por aí andam, todas enviadas por
> funcionários de outros tribunais, na maior parte das vezes sem o
> desejarem);
> - os programas fornecidos pela DGSJ (Direcção Geral de Serviços
> Judiciarios), são todos "programados" em Visual Basic (digamos,
> eufemisticamente, que não são "muito" portáteis);
> - os documentos fornecidos aos funcionários (modelos de documentos,
> tabelas de custos, etc...) são todos em formatos propriétarios
> (WinWord .doc, Excel .xls, etc...);
>
> Não se pense porém que isto é novidade, porque anteriormente (até
> 1997) usava-se o Display Write (DW) da IBM, e as aplicações eram
> programadas em Clipper (é melhor não comentar...).
>
> O mesmo pode ser visto nas escolas Portuguesas, onde na disciplina de
> Introdução à Informática utiliza-se exclusivamente software da
> Microsoft.
>
> Apesar da boa fé do Sr. Ministro Mariano Gago, penso que é preciso
> tomar medidas imediatas, porque a política actual do Estado Português
> só leva a que cada vez mais o software propriétário se "enraize", e torne
> o Estado em mais uma das suas vítimas do "abraço amigo".
>
> Ainda não desabafei tudo (ainda bem que encontrei alguém que partilha
> das minhas visões), mas acho melhor ir fazendo-o gradualmente.
>
> Despeço-me cordialmente,
> Ricardo Martins
>

Bem Vindo !

Acerca da situação que descreves, creio que devemos discriminar entre duas 
situações:

1 - Software e soluções desenvolvidos in-house nos ministérios

Quem já ouviu falar sobre os hábitos de trabalho e a qualidade de talento que 
existem nos ministérios, perceberá perfeitamente a situação actual...

A RING (Rede INterna do Governo) é aparentemente utilizada mas é para 
pirataria e coisas do gênero..

As pessoas que entram nos concursos públicos precisam é de ter os diplomas e 
habilitações de escolas profissionais ou universidades em vez de demonstrarem 
terem capacidades de trabalharem auto-sustentados e em equipa, criatividade, 
ética, etc, etc...
A habitual meritocracia formal que coalha o sangue da nação...

Assim não admira que seja escolhida o percurso de maior preguiça para o 
funcionário público (em vez do de menor energia para o contribuinte)

2 - Software e soluções compradas através de concurso público.

Escuzo-me a comentar o "habitué" dos concursos públicos em Portugal..

No entanto a oferta de soluções baseadas em open-source falha nas empresas. O 
software proprietário oferece a oportunidade de se aumentar as margens de 
lucro, ocultando-as atrás das licenças e extras do gênero...

O software livre obriga nesta perspectiva á honestidade!

Para o movimento do software livre realmente marcar as consciênçias é 
necessário EMPRESAS que ofereçam soluções baseadas em software livre!!

Que façam dinheiro e que se concentrem não em fazer software mas em integrar 
as partes e a fornecer um serviço mais rico e barato aos seus clientes.

Seria interessante, num concurso público, uma empresa de software livre 
apresentar uma proposta com um valor real mas aproximado a uma de software 
proprietário. Aí é que se veriam as intenções e percepção do estado nas 
questões do software livre. Além de que se poderia argumentar que a empresa 
de software proprietário estaria a ser subsidiada para introduzir software 
proprietário (com que intenções?!) na admnistração pública e no estado...

Saudações,

André Esteves
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"Se nas minhas investigações consegui maiores êxitos que os outros,
o facto deve-se  menos a uma capacidade intelectual superior do que
ao hábito de uma reflexão paciente" 
Sir Isaac Newton
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Por outras palavras:
Tens os miolos... Mas terás os hábitos de  trabalho?
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