[ANSOL-geral]Proposta de carta para a ASSOFT

nuno.leitao@idl-bt.com nuno.leitao arroba idl-bt.com
Thu, 17 Jan 2002 00:07:13 -0000


 
  Li o teu e-mail com interesse, e embora tenha feito unsubscribe da lista
ANSOL nao posso deixar de responder.

>tenha mais origem na tentação de instituições académicas de =
(tantas
>vezes à custa de dinheiros públicos) arranjar mais uma fonte de
>dinheiro.

  Curiosamente sugeri um artigo no Gildot 'a 5 minutos atras sobre isto.

>Acho que vale a pena chamar a atenção do Nuno Leitão para que, =
ao
>sugerir aos outros que eles não conhecem a realidade do software, =
ele
>não aparente desconhecer boa parte dela também.

  Nao sugeri nada. Apenas referi uma opiniao que desenvolvi ao longo de 5
anos de experiencia profissional com empresas comerciais de grande escala
(MCI-WorldCom, Sprint, British Telecom e Vodafone entre outras) ao nivel de
desenvolvimento de software e integracao de sistemas.

>Isto porque acho que conhece alguma história do campo suficiente =
para 
>perceber como a visão escrita e sublinhada de
>
>                      *impossíveis* de criar
>
>(com base no grau de complexidade) está já ultrapassada.

  Nao concordo. Existe (e existira' sempre) projectos de software cuja
complexidade nao se adapta bem ao modelo de desenvolvimento 'open-source'
onde este desenvolvimento e' feito de uma forma descentralizada. 

  E' devido a esta complexidade que existem processos de desenvolvimento de
software como o RUP (http://www.rational.com) e o Prince2
(http://www.prince2.com) -- estes existem para ajudar no desenvolvimento de
projectos de grande escala por forma a minimizar a "desorganizacao" inerente
a qualquer projecto de software.

>Não o digo quanto aos "intuitos comerciais", já que as =
motivações para
>escrever software livre podem ser de muitos tipos, até comerciais, =
mas
>por supor que queria referir-se, com "comercial", a software
>não-livre.

  Quando falo em software comercial refiro-me a software proprietario.

>  Quando fui vendo as palavras "impossível" e "utopia"
>lembrei-me das 1517 packages instaladas neste "modesto" computador
>para uso pessoal, 1517 entre as 8333 packages Debian que podia
>escolher neste momento, a esmagadora maioria das quais com licença
>estritamente livre.  

  Sim -- mas deves considerar que muitos (pelo menos os mais importantes)
desses packages teem sido desenvolvidos ao longo de *muitos* anos -- o GCC
por exemplo ja' tem 13 anos, o emacs e' ainda mais antigo enquanto o kernel
Linux faz 10 anos em breve (se nao me engano).
  Certo software comercial (nao estou a falar de M$ Windows) nao pode
evoluir desta forma, e precisa de periodos de desenvolvimento muito mais
rapidos (e.g., Geneva -- o meu exemplo original) -- para atingir isto sao
necessarios investimentos financeiros e pessoais significativos -- e como
deves compreender, isto apenas e' feito se for possivel ter tambem um
retorno financeiro consideravel -- e' por esta razao que o software
proprietario existe, e nao por egoismo das empresas que o produzem.

>É verdade que alguns destes programas podem ser
>vistos como software simples desenvolvido a um nível mais "amador",
>que alguma imprensa gosta de realçar quando fala de software livre,
>mas de forma alguma isso me parece ser o mais representativo do =
nível
>de qualidade e complexidade dominante na paisagem de software livre.

  Concordo plenamente com o nivel de qualidade. Concordo de tal forma que,
por exemplo, este ano ajudei a introduzir o Linux na British Telecom -- com
tal sucesso que de 0 instancias, a BT neste momento corre cerca de 400
servidores de acesso publico em Linux (e FreeBSD) -- isto em apenas 7
meses!!

>É que se se achar razoáveis as estimativas em, por exemplo,
>
>   http://www.dwheeler.com/sloc/redhat71-v1/redhat71sloc.html
>
>e se software deste valor e grau de complexidade é *impossível* de
>aparecer como apareceu, estou a trabalhar diariamente com uma
>alucinação.

  Interpretaste-me mal. Dando como exemplo o valor de $1 biliao que e'
referido no site acima como o custo de desenvolvimento do RedHat 7.1. Este
valor deve ser diluido ao longo do periodo total de desenvolvimento e
melhoria do software referido (e nao o desenvolvimento pontual do produto,
que levou alguns meses 'a RedHat) -- se considerarmos 7 anos como idade
media de cada package individual (~120 milhoes/ano) entao o valor nao e' tao
impressionante como isso quando consideramos que o desenvolvimento do
Solaris8 (em ~1.5 anos) representou um investimento total da Sun de cerca de
700 milhoes de USD -- como deves imaginar investir 700 milhoes de USD num
produto e' um risco enorme, e a empresa em questao tem o direito de
salvaguardar este investimento. Caso contrario nao estou a ver qual a
motivacao que estas empresas teem em desenvolver software desta
complexidade.

>Não vejo razões de princípio nem exemplos históricos para se =
dizer que
>software proprietário é melhor do que livre.

  Eu nao disse que um ou outro sao melhores -- disse sim que algum software
nao se adapta bem a software livre pois tem um nivel de complexidade e um
tempo de desenvolvimento que nao se adaptam a um esforco descentralizado de
desenvolvimento.

>Bom e mau trabalho técnico pode existir de ambos os lados.  Quanto 
>ao "apropriado" do ponto de vista de quem quer resolver um problema a
>curto prazo, a diferença essencial parece estar, num dado momento, =
na 
>existência ou não de soluções já preparadas de um ou do =
outro tipo.

  Exacto!

>Em diversidade e quantidade, especialmente em certos ramos, falta =
ainda 
>produzir muitas soluções livres, mas quanto à qualidade =
pessoalmente 
>sinto o contrário do que parece ser um lugar comum: quando existem 
>soluções amadurecidas de ambos os tipos, tenho percebido 
>sistematicamente o software livre como mais fiável do que o 
>correspondente não-livre.

  Se calhar dizes isto porque nao usaste a um nivel suficiente algum
software proprietario que eu consideraria de extrema qualidade, mas nao vale
a pena discutir isto.

  Best Regards,

--Nuno Leitao.