[ANSOL-geral]Busca de projectos open-source portugueses...

João Mário Miranda jmiranda arroba explicacoes.com
Tue, 08 Jan 2002 22:47:52 +0000


Rui Miguel Seabra wrote:

> A criacao pelo acto.
> O uso pelo incentivo a fazer mais.
> =

> Ao criar esta-se a produzir codigo que nao permite o uso das liberdades=

> a que temos direito.

Acho que há aqui uma contradição. Uma das liberdades a que temos
direito é a de decidir o que fazer com as nossas próprias criações.
Os outros não têm direitos em relação aquilo que alguém produz, a 
não ser que o autor conceda esse direito. É claro que se pensas o
contrário, talvez aches que eu tenho o direito de modificar os 
livros do Saramago, adicionar o meu nome à lista de autores e 
reeditar o livro sem pagar um centavo que seja ao autor.


> Ao usar, esta-se a dar incentivo para se continuar a produzir.

Se o produto é necessário, se ninguém produz uma versão livre, não
vejo porque é que o autor não deva ser incentivado a produzir mais.


> > E conforme está definido o conceito de liberdade neste mundo de ago=
ra,
> > alguém ir contra a tua ética ou moralidade não é um acto de v=
iolação da
> > tua liberdade. Pelo contrário, expressares o teu desprezo ou prefer=
ência
> > conforme essa ética ou moralidade já vai contra o princípio de =
liberdade
> > nalguns países (notoriamente nos EUA).
> =

> Esse e o desejo de muitas companhias (Microsoft e outras) e associacoes=

> (RIAA, MPAA, etc).
> Ha-que lutar contra isso. Felizmente nos EUA ha sempre o ultimo recurso=

> (far west)

Há muitas maneiras de lurtar contra isso, e negar os direitos aos
autores não é certamente a estratégia mais inteligente.

 
> > E para muitos, e legalmente, impôres tu o que outrem pode escolher =
como
> > licença de um seu produto, ou que produto usar conforme a sua licen=
ça é
> > violar a liberdade dessa pessoa. Usar essa pessoa um produto desses o=
u
> > licença dessas não vai contra a, pelo menos, minha liberdade...
> =

> A escolha de uma licenca e o uso de um poder e nao o uso de uma
> liberdade. Ao escolheres uma licensa nao livre, estar a exercer o teu
> poder de limitar os outros. Dai que a tua liberdade de escolher a
> licenca termine na minha liberdade de acesso a expressao.

Ao escolher uma licença não livre, o autor está a exercer um 
poder conquistado com o seu trabalho e está a exercer o seu
direito à liberdade de fazer o que entender com o seu tempo e
o seu esforço. Se o autor optar por uma licença livre, isso é
uma dádiva à sociedade. Os outros devem agradecer essa dádiva
a que o autor não era obrigado. No dia em que as contribuíções
dos programadores forem encaradas como obrigações, e não como
dádivas a que é preciso agradecer, o movimento do software
livre colapsa, porque ninguém contribuirá por obrigação. É o
sistema social baseado na dádiva e no reconhecimento da dádiva
por parte dos outros que faz o sistema funcionar. É isso que 
impede o movimento de cair na Tragédia dos Comuns.
 
 
> > > Há que ter alguma tolerância mas há também que exercer pres=
são para mudar
> > > as coisas. No caso
> > Onde está essa tolerância quando se diz que uma pessoa não tem =
a liberdade
> > de escolher o licenciamento da sua criação? Ou que não tem a li=
berdade de
> > usar o software melhor indicado para o seu caso?
> =

> Tem a liberdade de usar o software melhor indicado para o seu caso, mas=

> deve-lo-ia fazer com consciencia de que ao faze-lo esta compactuar com
> todo o mal que vem por detras. =


Em primeiro lugar, tens que provar que há um mal por detrás. 
Parece-me que o negócio de software é um negócio perfeitamente
legitimo. A ideia que não é, é já uma questão política de fundo
que passa por mudar a sociedade toda, e não só a forma como o 
software é produzido. Acho que é mais fácil unir as pessoas em
torno do sofware livre do que uni-las em torno de ideias que
vão contra o seu modo de vida. Ir por este caminho é um erro
estratégico.

Em segundo lugar, estás a apelar à solução errada. Os boicotes 
comerciais por razões sociais raramente resultam porque o ganho
pessoal em não boicotar excede a fatia individual do ganho social.
Um fenómeno conhecido pela Tragédia dos Comuns.

Aliás, a Tragédia dos Comuns também atinge o software livre. Toda
a gente é a favor de usar o software produzido por outros, mas 
poucos são aqueles que produzem de facto software livre. A solução
para este problema passa por recompensar socialmente aqueles que
se esforçam para produzir software livre reconhecendo-os e 
agradecendo-lhes. A ideia de que o autor é obrigado a optar por uma
licença livre é perniciosa porque elimina muitas das razões que 
levam os autores a escrever software livre.

A melhor estratégia para uma organização como a ANSOL passa por 
incentivar e elogiar as empresas, organizações e individuos que
contribuem para a produção e divulgação do software livre. Passa 
por críticar o uso de fundos públicos para pagar software 
desnecessário. Não passa por atacar os autores que preferem 
licenças proprietárias. 
 
-- 
joão
http://www.nonio.com