[ANSOL-geral]Re: [ANSOL-geral]Interpelação à direcç
ão da ANSOL.
Carlos Baquero Moreno
cbm arroba di.uminho.pt
Wed Dec 4 13:33:01 2002
On Wed, 4 Dec 2002, Bruno Filipe Marques wrote:
> ...
> Finaolmente, eu proponho um voto de louvor para a direcção que, por s=
er
> a primeira direcção tem o trabalho árduo de traçar aqueles que se=
rão os
> futuros destinos da ANSOL.
> Não vejo onde eles erraram, como se pode levar a crer nas leituras dos=
> diferentes mail da lista.
> ...
Viva,
Tenho imensa consideração pelo esforço desenvolvido na criação desta
associação e em particular pelo trabalho da direcção da Ansol.
Basta para tal ter em conta o trabalho existente na criação de documentos,
regulamentos e acções de divulgação.
No que toca aos objectivos da associação, a inclusão das "4 liberdades"
nos estatutos parece limitar com alguma precisão o seu fim associativo, se
bem que a noção do que é "Informática Livre" já pode dar azo a
interpretações mais abrangentes. Por exemplo o artigo quarto dos estatutos
enuncia um conjunto de interesses bastante mais alargado do que a defesa
de licenças GPL ou formalmente equivalentes no sentido das 4 liberdades.
Vamos então supor que o âmbito não é mais abrangente do que a defesa
de software que esteja de acordo com as 4 liberdades (SL). Note-se, que sendo
o ambito mais abrangente as considerações que vou expôr ficam ainda mais
reforçadas.
Estou perfeitamente convicto (mas aceito que me convençam do contrário) que
a defesa do SL como solução única é uma péssima estratégia para a divulgação
do próprio SL. Tambem não acredito que seja caminho para convencer alguem
acenar, como argumento, referências para os vários textos de FSF. A licença
GPL é uma obra genial, mas a atitude da FSF tem pecado muitas vezes por
excessos de radicalismo que acabam por criar anti-corpos que não fazem bem
nenhum à difusão do próprio SL.
Tenho pena que em Portugal se possa estar a ir pelo mesmo caminho. Penso que
a ANSOL não se assume simplesmente como uma delegação local da FSF. Se
apenas isso fosse, e se esta estivesse hierarquicamente dependente da FSF
então provavelmente eu não estaria aqui a esgrimir argumentos.
Uma vez que a ANSOL como associação têm autonomia para defender a divulgação
do SL da forma que achar colectivamente mais apropriada, acho que continua a
ser pertinente discutir estas estratégias no seu seio.
Acho que a melhor forma de divulgar a opção SL é o SL ser uma opção no seio
da sua família de opções que é o software de código aberto e não ser
apresentado como a única opção legítima.
Não resisto a uma analogia, até para tirar alguma carga preconceitual ao
tema:
Vamos supôr que há em Portugal muita gente que se identifica com a defesa da
utilização de energias renováveis como alternativa ao uso de combustíveis
fosseis.
Surge uma associação para a defensa da energia eólica.
Será que a melhor forma de convençer os decisores a montar parques
eólicos, será dizer que a solução ultima é acabar com todas as barragens e
outras formas de captação de energias renováveis, bem como com as não
renováveis.
Ou será mais sensato, apresentar as vantagens da energia eólica, mas ter o
pragmatismo de compreender que nunca seremos auto-suficientes com uma
única forma de energia (tirando se calhar a nuclear, já que uranio cá não
falta).
Nas licenças passa-se o mesmo. O facto de eu defender a existência e a
expansão do SL, não me obriga a negar as virtudes do Software Aberto e a
muito provável validade do Software Fechado em determinas nichos de
mercado.
Acho que não é impossível defender o SL dentro de uma perspectiva global que
não obrigue a que um dia haja uma egemonia de SL. Como li alguem escrever
recentemente não gostaria de trocar uma ditadura por outra.
Acho mesmo que é assim mais fácil ser convincente na difusão do SL.
É neste ponto que não concordo com a postura que tem transparecido da parte
da direcção da ANSOL, e basta observar o que se passa neste meio pequeno que
é a comunidade de "energias renováveis" para ver que é fácil gerar anti-corpos
contra a defesa intransigente do modelo SL.
Uma acção excessivamente radicalizada pode acabar por ser mais danosa do que
a ausência de acção.
Não ponho dúvidas de que esta política seja feita com a melhor das
intenções por parte da direcção. É tambem com uma intenção constructiva que
chamo a atenção para este ponto de vista.
Cumprimentos,
Carlos Baquero
P.S: É óbvio, mas não fica mal frizar, que o que deve estar em discussão são
políticas e não questões personalizadas.
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Carlos Baquero
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