[ANSOL-geral]Proposta de criação de Grupode Trabalho

Jose' Sebrosa sebrosa arroba artenumerica.com
Tue Apr 30 05:48:02 2002


J M Cerqueira Esteves wrote:
> 
> * Joao Mário Miranda <jmiranda arroba explicacoes.com> [2002-04-30 03:46 +00=
00]:
> > Acho que se o Software não for realmente livre, o nome da ANSOL
> > deve ficar de fora.
> 
> E não é "apenas" pelo problema imediato da contradição com prin=
cípios e
> finalidades da associação.  Há também a questão da complexida=
de das
> licenças para investigar e gerir (infligindo a nós próprios e aos
> "clientes" finais precisamente alguns problemas que se pretende evitar =
com
> software livre; quando se começa a lidar com os pormenores percebe-se
> que "liberdade" e falta dela não são aqui ideias poéticas e
> distantes mas dizem respeito a questões muito concretas).
> 
> Só com software livre fica tudo muito mais simples.  O leitor do
> jornal pergunta "mas posso mesmo copiar isto tudo, dar e vender, e
> mexer por dentro?" e a resposta é (tanto quanto for possível resumi=
r)
> SIM em vez de "sim, se for nisto, assim-assim se for naquilo, ..." e
> uma página cheia de copyrights com licenças variadas à frente ain=
da
> mais complicada que num pacote de software "tradicional".  Manter a
> mensagem simples ajuda o marketing, talvez mais do que tentar tornar o
> pacote mais abrangente à custa de enxertos não-livres e EULAs varia=
dos
> no écran do utilizador de Windows.  E suponho que shareware ou demowa=
re já
> muito pessoal vai recebendo em CDs vindos em revistas.


Concordo com o que dizes em geral, mas se calhar explico melhor a minha ideia
"menos restritiva quanto às licenças" com um exemplo:

Supõe que uma das alternativas é um programa que não respeita a quarta
liberdade:

d.A liberdade de melhorar o programa e de tornar as modificações públicas, em
benefício de toda a comunidade.

Será que esta violação é importante no nosso caso concreto?  Nota que o
destinatário do CD é um utilizador que não quer saber de fazer modificações ao
programa para nada, portanto ele não perde nada por não ter essa liberdade (que
não usaria mesmo que tivesse).

Outro:  Supõe que o programa é apenas distribuído em binário e não respeita a
segunda liberdade:

b.A liberdade de estudar o funcionamento do programa e de o adaptar a novos
problemas.

Neste caso é necessário ponderar o risco de meter no sistema código
desconhecido e que ninguém pode inspeccionar, mas não me choca que existam
casos concretos em que essa opção, depois de ponderados os riscos, acabe por
ser considerada válida.

Na minha esquematização dos objectivos e das prioridades, aquilo que desejei
que ficasse claro foi que o objectivo central é dar às pessoas algo de útil,
que possam copiar e dar aos amigos livremente, que possa competir com aquilo a
que as pessoas já têm acesso e que sirva de veículo à nossa mensagem. 
Certamente que não haverá possibilidade de fazer inventários exaustivos, pois o
tempo é limitado.  Mas, até por isso mesmo, não faz sentido nenhum eliminar à
partida software interessante apenas porque não respeita estritamente as quatro
liberdades.

Tendo presentes os objectivos da coisa, confio no bom-senso dos participantes
para fazer as melhores escolhas de entre as que tiverem disponíveis.  Confio no
bom-senso das pessoas o suficiente para não achar necessário (nem desejável)
impôr-lhes normas restritivas de carácter absoluto, do tipo "aqui só entra
software com a licença X".

As pessoas são inteligentes e, caso a caso, terão capacidade de decidir se
aquele programa em concreto merece ou não ser incluído.


> Mesmo que não tivéssemos problemas de consciência, teríamos no =
final
> problemas de imagem.  "Então eles andam para aí a falar de software
> livre mas para lançar um CD ajudaram a fazer marketing de software
> proprietário da empresa X e da empresa Y etc etc etc, e puseram
> software "aleijado" no CD etc etc etc".


Repara, estou-me positivamente nas tintas para se o CD inclui ou não software
de empresas.  Os objectivos do CD são claros para mim, e se esses objectivos
são melhor conseguidos incluindo nele software de empresas, não hesito um
segundo.  Tenho a consciência tranquila, pois não estou a soldo de nenhuma
empresa para fazer a promoção do seu software, e acho que se passa o mesmo com
todos nós.  Se o software for incluido no CD, sê-lo-á por ter valor.

E se tiver valor, não deve ser excluído só por ser duma empresa!!


> Podíamos tentar explicar
> publicamente o que o Sebrosa explicou sobre ajudar a mudar
> gradualmente conduzindo o utilizador para alternativas, mas se
> pudermos evitar essa batata quente melhor.  Já temos demasiado para
> fazer e pouco tempo para o fazer.


A ideia não é ter que explicar isso publicamente.  Ninguém quer meter o pescoço
nesse cepo...  :^)


> Isto não invalida que a estratégia seja seguida a título pessoal.=
  Já
> há muitos anos que conduzo amigos para "alternativas", seja por
> interesse técnico de outro software seja pelas questões de licenç=
a, e
> mesmo que o ganho "estratégico" em termos de licença seja parcial.
> Mas o que é apropriado para o nível informal, onde se avalia cada
> caso concreto de uma vez, não é necessariamente apropriado ao nív=
el
> formal e oficial da ANSOL.


Sim.  E repara que, na formulação que fiz do projecto, a ANSOL pode ser
completamente dispensada de uma participação formal.  O próprio grupo de
trabalho pode ser inteiramente informal.  A distribuição do CD prevista é quase
boca-a-boca!  A participação da ANSOL pode ser ténue a ponto de se limitar a
aconselhamento (por exemplo, aconselhamento relativo às licenças a evitar, seus
problemas, etc.).

No entanto parecer-me-á paradoxal se a ANSOL se revelar incapaz de colaborar
formalmente num projecto desta natureza só por ele não se limitar a conter
software livre.  Repara que digo "colaborar" e não "fazer".  Não é preciso que
a ANSOL *faça*, mas é importante que *colabore*.  Para dar um exemplo cómico,
faz todo o sentido que a Coca-cola colabore numa barraca de cachorros-quentes
(a Coca-cola entra com as bebidas), mas não faz sentido que a Coca-cola faça a
barraca toda (pois a Coca-cola não tem nada a ver com pão nem com salsichas). 
E não há dúvida que é bom para a Coca-cola participar na barraca, pois promove
o que lhe interessa:  As suas bebidas.

Dizendo ainda doutra forma:  O resultado da participação da ANSOL no projecto
(em qualquer projecto) deve ser uma *melhoria* da qualidade do produto final, e
não uma *perda* de qualidade.  Estaremos muito mal se o resultado da
participação da ANSOL em projectos fôr a perda de qualidade desses projectos!!!


Sebrosa