[ANSOL-geral] Os 20 anos do Projecto GNU - artigo traduzido de Richard Stallman

André Esteves aife netvisao.pt
Terça-Feira, 6 de Janeiro de 2004 - 20:55:36 WET


Os 20 anos do Projecto GNU

Artigo de Richard Stallman traduzido:

A Comunidade de Software Livre depois de 20 anos:
Com grande mas incompleto sucesso, E agora o que fazer?

Foi á vinte anos atrás que eu deixei o meu trabalho no MIT, para começar a 
desenvolver um sistema operativo livre, o GNU. Embora nunca tenhamos 
publicado um sistema GNU completo e pronto para uso em ambientes de 
"produção", uma variante do sistema GNU é agora utilizada por dezenas de 
milhões de pessoas que simplesmente não estão a par desse facto.
O software livre não significa grátis; ele significa que os seus utilizadores 
são livres de executar o software, estudar o código-fonte, mudá-lo, e 
redistribui-lo sem ou com lucro, quer grátis ou por um preço.

A minha esperança era que um sistema livre abriria um caminho para escaparmos 
desse sistema de subjugação que é o software proprietário. Eu tinha 
experimentado a feiura do modo de vida que o software não-livre impõe aos 
seus utilizadores, e fiquei determinado a escapá-lo e de dar a outros um meio 
de também escaparem.

O software não-livre carrega com ele, um sistema de valores anti-sociais que 
proibem a cooperação e a comunidade. Tipicamente, não podemos estudar o 
código fonte; não podemos dizer que truques terríveis ou bugs horriveis ele 
contém. Se não gostarmos desta situação, estamos impotentes para a evitar. 
Pior de tudo, somos proibidos de partilhá-lo com os outros. E proibir a 
partilha de software é cortar os elos mais básicos que formam uma sociedade.

Hoje, nós temos uma larga comunidade de utilizadores que correm o GNU, Linux e 
outros softwares livres. Milhares de pesoas gostariam de estender isto a 
outros e tomaram como objectivo, convencer mais utilizadores de computadores 
a "utilizar software livre". Mas o que significa "utilizar software livre"? 
Significa escapar do software proprietário ou meramente instalar software 
livre ao lado dele? Ambicionamos levar as pessoas para a liberdade, ou 
simplesmente mostrar-lhes o nosso trabalho? Noutras palavras, trabalhamos 
para a liberdade, ou trocamos esse objectivo pelo objectivo vão da 
popularidade?

É fácil de entrarmos no hábito de esquecermo-nos desta distinção, porque em 
muitas situações comuns não há diferença. Quando estamos a tentar convencer 
uma pessoa a experimentar um programa livre, ou a instalar o sistema 
operativo GNU/Linux, ambos os objectivos levariam ao mesmo comportamento 
prático. No entanto, noutras situações os dois objectivos inspiram acções 
muito diferentes.

Por exemplo, o que deveriamos dizer quando o video driver Invidious (não 
livre), a base de dados Prophecy (não-livre), ou o interpretador proprietário 
de linguagem indonésia e ás suas bibliotecas de funções, são publicados numa 
versão que corre em GNU/Linux? Deveriamos agradecer os criadores pelo seu 
"suporte" do nosso sistema, ou deveriamos ver estes programas não-livres como 
qualquer outro software não-livre -- como um incômodo atraente, uma tentação 
á subserviência ou como um problema a ser resolvido?

Se tomarmos como nosso objectivo a popularidade crescente de certo software 
livre, se procuramos convencer mais pessoas a utilizar software livre durante 
algum do tempo, podemos pensar que estes programas proprietários são 
contribuições que ajudam para este objectivo. É difícil de defender que a sua 
disponibilidade ajuda a fazer o GNU/Linux mais popular. Se o uso geral do GNU 
ou do Linux é o objectivo final da nossa comunidade, deveremos então 
logicamente aplaudir todas as aplicações que correm nele, sejam livres ou 
não.

Mas se o nosso objectivo é a liberdade, então isso muda tudo. Os utilizadores 
não podem ser livres enquanto utilizarem programas não-livres. Para libertar 
os cidadãos do ciberespaço, nós temos que substituir esses programas 
não-livres, não aceitá-los. Eles não são contribuições para a nossa 
comunidade, mas sim tentações para aceitar a continuação da falta de 
liberdade.

Existem duas motivações comuns ao se desenvolver um programa livre. Uma é de 
que não há outro programa para fazer o trabalho. Infelizmente, aceitar o uso 
de programas não-livres elimina essa motivação. A outra é a vontade de se ser 
livre, que motiva as pessoas a escreverem substitutos livres a programas 
não-livres. Em casos como estes, este motivo é o único que pode fazer o 
trabalho.Simplesmente ao utilizarmos um substituto livre, mas incompleto, nós 
podemos encorajar os criadores livres a perseverar até que o seu programa se 
revele superior.

E estes programas nã-livres não são triviais. Desenvolver substitutos livres 
para eles será um grande trabalho; poderá demorar anos. O trabalho poderá 
necessitar a ajuda de futuros hackers, jovens de hoje, pessoas ainda a serem 
inspiradas a juntarem-se ao trabalho do software livre. O que podemos fazer 
hoje para ajudar a convencer essas pessoas, no futuro, a manterem a 
determinação e a persistência necessárias para completarem este trabalho?

A forma mais eficaz de fortalecer a nossa comunidade para o futuro é de 
espalhar a compreensão do valor da liberdade -- de ensinar mais pessoas a 
reconhecer a inaceitabilidade moral do software não-livre.
E as pessoas que dão valor á liberdade são, a longo prazo, a sua melhor e mais 
essencial defesa.

Tradução 2004 André Esteves
Copyright 2004 Richard Stallman
Verbatim copying and distribution of this entire article are
permitted world wide without royalty provided this notice is preserved. 

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Parabéns GNU!!!




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