[ANSOL-geral] O "puto" do Linux

Nuno Castro nuno.al.castro gmail.com
Terça-Feira, 12 de Março de 2013 - 20:36:07 WET


Pessoal,

Já venho a pensar nisto desde há algum tempo. A minha mãe é professora no
ensino primário e tem um aluno que utiliza o Caixa Mágica. O miúdo adora
aquilo e está sempre a fazer perguntas sobre o software. Vejo como um raio
de luz. Eu nunca falei com ele pessoalmente, no entanto. Mas isso
desperta-me uma ideia. Não creio que seja o único a pensar nisso.

Tendo em conta as "particularidades" proprietárias do projecto Magalhães
(contratos com a Microsoft), gosto de pensar que um exemplo como este seria
um bom ponto de partida para recuperar (ou iniciar) o impulso do software
livre e da literacia tecnológica entre as gerações mais jovens. É verdade
que os equipamentos disponibilizados aos alunos do ensino primário tiveram
o CM pré-instalado, mas isso passou ao lado deles e dos próprios
professores. Vamos ver o panorama geral: a verdade é que a (larga) maioria
dos professores do ensino primário (quem for de zonas menos "urbanizadas"
do país sabe do que eu estou a falar) não são pessoas que tenham facilidade
em lidar com as tecnologias da informação. E se há uma grande monopolização
de ferramentas proprietárias, estes são os alvos mais vulneráveis ao
mercantilismo tencológico, principalmente porque olham com muita
insegurança para o computador, que infelizmente continua a ser um elemento
completamente estranho na vida de imensa gente. E se o computador é
estranho, quanto mais os movimentos das liberdades digitais e tecnológicas.

A própria estrutura administrativa do ensino não utiliza software livre. O
pequenos cosmos da escola da minha mãe (e lamento acrescentar que é
provavelmente a única escola pública no concelho de Guimarães que não tem
acesso ao saneamento público - é a este nível que o país real está) é uma
prova disso. Ainda hoje estive a ajudar os professores desse
estabelecimento a ligarem-se remotamente ao servidor central
administrativo, tarefa que só podem desempenhar com a "internet azul" (vide
Internet Explorer). O servidor corre uma versão do Windows Server 2008, que
entra em conflito com o controlo ActiveX disponível no IE8, o único que que
pode ser instalado no WinXP. Sem querer entrar em mais pormenores, fica
mais do que evidente que esta comunidade escolar é vítima das políticas
mercantilistas da MS, fica presa ao serviço de uma empresa local (nunda.net)
das que são da pior espécie (aquelas que não investigam, não inovam e só
pensam no lucro rápido - infelizmente o caso comum para uma empresa local),
refém da falta de informação concreta sobre as alternativas exigentes.

Para além da necessidade imperativa, emergente de alargarmos a nossa acção
aos meios locais concretos, que fica patente neste pequeno caso que
descrevo, a figura do miúdo que usa o CM surge como a solução possível.
Quantos miúdos assim há no país? Será que não terão, nas vossas famílias,
casos semelhantes ao meu? O nosso activismo tem de passar pela educação dos
mais novos e pela captação destes pequenos entusiastas.

Imaginem a força que representa, para alguém que não conhece ou não está
ambientado com as tecnologias da informação, ver ou ter uma criança a poder
mostrar-lhes como utilizar!

Pessoalmente, vou organizar uma iniciativa local em que pretendo dar aos
miúdos o papel de professores, para lhes ensinarem a "brincar" com o Linux.
Fica aqui a promessa desse evento. Gostava de trazer este tema do
envolvimento infantil no software livre à discussão no nosso meio. Por isso
descrevi este cenário.

Espero ter-vos inspirado para acções semelhantes!

Um abraço a todos os entusiastas da Liberdade, miúdos e graúdos! Desculpem
não ter empregue o termo GNU\Linux. Foi apenas por parcimónia.
-------------- próxima parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
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