[ANSOL-geral] João Pedro Pereira neste momento já deve ter emprego nas RP da mico$oft portugal

José Sebrosa sebrosa artenumerica.com
Sexta-Feira, 9 de Março de 2012 - 07:29:19 WET


On 03/08/2012 03:10 PM, Marcos Marado wrote:
> On Monday 05 March 2012 04:42:35 José Sebrosa wrote:
>> Ele faz e sempre fez afirmações invulgares.  O facto de as repetir não
>> as vulgariza, principalmente perante quem na minha opinião importa mais
>> na entrevista:  A audiência.
> 
> Dependendo do que queres dizer com "invulgares", serão vários os comentários 
> que se possam tecer a esta tua afirmação. Usas um tom que leva a crer que 
> consideras que "afirmações invulgares" são um aspecto negativo, mas - 
> genericamente - é a invulgaridade que cria o interesse na existência de uma 
> entrevista. Ninguém entrevista o "homem vulgar".


Não queria dar à "invulgaridade" qualquer tom negativo.  Referi-a apenas
como justificação para a continuação da conversa.  Concretamente, é
invulgar estar disposto a esperar 50 anos, e havia aí bastante espaço
para falar mais.


>> Penso que concordas que a audiência não considera generalizadamente que
>> a ideia de esperar 50 anos por software livre em vez de o desenvolver
>> proprietário seja "vulgar"...
> 
> A audiência não considera generalizadamente a ideia de esperar por software em 
> vez de o desenvolver?


Nem me lembrei da modalidade "desenvolver".  Estava mesmo só centrado na
invulgaridade de esperar, sendo subentendido que a opção dele é esperar
"aconteça o que acontecer".  (É a minha leitura da metáfora dos 50 anos).


> Caro, a audiência não é - na sua maioria - quem
> desenvolve software, a audiência é quem usa o que há e não usa o que não há. O 
> foco aqui não é o esperar ou não, o foco aqui é o usar ou não software 
> proprietário. 


Sim.


> Podes dizer que o que é invulgar no entrevistado é ele advogar
> que não se deve usar software proprietário.


Digo isso apenas quando ele passa ao nível do "seja em que caso for".
Pode ser problema meu, mas conceitos como "nunca" ou "sempre"
levantam-me sempre (hehe) muitos problemas e levam-me a procurar
situações extremas.


> E uma primeira pergunta natural
> numa entrevista a alguém que advoge isso seria um "defende que nunca se deve 
> usar software proprietário, porquê?". Em vez disso tivemos: "1) como se 
> sentiu?", "2) como se sentia?", "3) como se sente?", "4) afirmação 
> (questionavel) e não pergunta", "5) afirmação (questionavel) e não pergunta", 
> "6) porque não se pode confiar no software proprietário?", ...
> Claro que podes assumir que a pergunta 6 serve de certa forma para colmatar o 
> não haver um "porque não se deve usar software proprietário?", mas se assim 
> for... a resposta do Stallman parece ter satisfeito o entrevistador, visto que 
> a pergunta 7) passou a ser sobre *desenvolver* software. 


É manifesto pelo resultado que a linha de entrevista desagradou ao
Stallman.  E também é verdade que não temos toda a informação, pois
mesmo que esteja ali todo o texto não está lá o tom de voz, atitude
corporal, etc..

Mas mesmo assim, olhando para o que sei (que é apenas o texto publicado)
penso que o Stallman descambou depressa demais.  Parece-me exigível
bastante mais "cabedal".

Mas claro, todos temos dias maus.


>> Não se trata do jornalista fazer tábua rasa dos (seus) conhecimentos
>> anteriores.  A entrevista é dada a um jornal generalista, onde a maioria
>> dos leitores nunca ouviu ideias tão radicais.  Isso justifica que se
>> comece a explicar "do princípio".
> 
> Podia ser assim, mas então isso não justifica porque é que a entrevista começa 
> por saber como é que o entrevistador se sente, fazer um par de afirmações, e a 
> primeira pergunta "a sério" para "explicar do princípio" é já a 6ª. E, em vez 
> do entrevistador pedir para o Stallman "explicar do princípio", perguntou-lhe 
> logo uma questão "não-introdutória". Como se não bastasse a lista de perguntas 
> feitas, a própria introdução que se dá à entrevista mostra que o entrevistador 
> não está ali a tentar fazer uma "entrevista introdutória", mas sim a dar no 
> início as introduções pelas suas palavras, e ir aos "temas profundos" na 
> entrevista. 


Enfim, de facto não vejo nada na linha de entrevista que justifique
tamanho descarrilar.  Para mim, a entrevista teve duas perguntas, cada
uma seguida por alguma conversa.  As duas perguntas foram a primeira
"como se sentiu" e a sexta onde se vai buscar uma declaração anterior
para levantar o problema da espera por soluções.  A entrevista descambou
imediatamente na segunda secção-conversa, e descambou muito mal, com o
Stallman a dizer coisas sem nexo.  Aquela de não querer ter conversa com
quem tem valores diferentes é incrível, e o resto é apenas a confirmação
do desastre...


>> Não:  Da forma como ele a vê, ou seja, da forma como ele a vê.  No
>> concreto:  Decerto interessa aos leitores saber em que ponto da escala
>> de valores está a liberdade associada ao software livre.
> 
> Ainda que toda esta afirmação seja discutível (se-lo-ia pelo Stallman e eu 
> partilho da visão dele), isso é totalmente irrelevante: estás a dizer que era 
> interessante que Stallman respondesse a uma determinada pergunta, depois de 
> teres dito que não queres saber do entrevistador, ignorando que o entrevistado 
> não responde às perguntas que não lhe são feitas, mas sim às que lhe são 
> feitas. 


O que quis dizer quando referi que não me interessava o entrevistador
era que, se o entrevistador é bom ou mau tanto me faz, pois ele não me
diz nada, mas eu quero que o Stallman seja bom, pois nele estou interessado.


>>> O problema depois é que quem escreve as leis está sujeito a lobbies e é
>>> por esta razão que temos leis que até se contradizem no mesmo
>>> articulado.
>>>
>>> O conceito de liberdade do Stallman não é um conceito estranho inventado
>>> por ele, mas é sim o princípio subjacente à nossa lei (e de outros
>>> países).
>>
>> Se não houvesse nada a dizer sobre o assunto da Liberdade, não se faziam
>> conferências como esta:
>>
>> http://mises.org/media/5247/What-Ever-Happened-to-the-Constitution
> 
> Não ouvi a converência, mas suponho, pela tua afirmação, que é uma que levanta 
> uma série de questões relativas à Liberdade. Quais/quantas delas foram 
> levantadas pelo entrevistador do Stallman?


É um nível completamente diferente... :)  O entrevistador é
infinitamente mais pobre.


>>>> Demitir-se de explicar e
>>>> virar as costas ao debate e ao confronto de valores é realmente muito
>>>> fraco.
>>>
>>> O José continua a ver isto como um debate. Uma entrevista não é um
>>> debate. Para isto ser um debate era preciso haver mais uma pessoa.
>>
>> Não quero que a definição técnica de "debate" ou "entrevista" me afaste
>> do assunto central:  As ideias do RMS são polémicas e o público
>> generalista d'O Público merecia ser exposto a elas em maior
>> profundidade.  E o RMS não se deu ao trabalho de aprofundar a exposição.
> 
> O RMS não teve oportunidade para expor seja o que for.


Não vejo assim, mas ok.


>>>> Ele faz um comentário que é uma evidência: Diz que se vai perder alguma
>>>> coisa no processo de espera.
>>>
>>> Antes, o Stallman já tinha dito:
>>> "Não faz diferença. De que vale ter software tecnicamente melhor, se não
>>> respeita a liberdade? " "Não interessa o quão bom é tecnicamente…"
>>> "Não abdico dessa liberdade por nenhum benefício."
>>> "nem sequer se pode confiar num programa que não seja livre."
>>>
>>> Chega?
>>
>> Não.  Por exemplo, falta confronto com casos realmente duros.  Casos de
>> vida ou morte.  Digo que falta, pois pode bem ficar no espírito de
>> leitores a dúvida sobre onde é que o "não abdico dessa liberdade por
>> nenhum benefício" pára, ou se não pára nunca e vai de facto até ao
>> sacrifício da vida.
> 
> Achas, portanto, que devia ter havido uma follow-up question que não houve, e 
> achas que, por alguma razão, isso não diz respeito ao entrevistador, e que a 
> culpa é do entrevistado.


Acho apenas que o Stallman teve pouco "cabedal", é só isso.  Dá ideia
que se esforçou pouco.  Se calhar estava cansado, se calhar é por sermos
um país minorca, se calhar teve um dia mau, sei lá...

Se o Stallman quisesse de facto falar das ideias dele, tinha arranjado
montes de espaço para falar.  Noutro email referi o exemplo (concordo
que extremo) do Álvaro Cunhal, que dizia sempre o que queria fosse qual
fosse a pergunta que o entrevistado fazia ou deixava de fazer.

Seria necessário ter simultaneamente 1) coisas para dizer, 2) talento
para as encaixar na entrevista, e 3) vontade de o fazer.  Dá-me ideia
que o Stallman não teve vontade...


Sebrosa



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