Re: [ANSOL-geral] [Fwd: [INFO] Linha directa - está tudo doido?]
J M Cerqueira Esteves
jmce artenumerica.com
Sábado, 30 de Junho de 2007 - 03:58:23 WEST
Carlos Correia wrote:
> Sim, há muita gente a deixar-se tentar pela ideia de um estado policial... será
> do stress?
Um artigo que acho interessante nesse contexto, até por ter a sensação
de haver uma grande receptividade ao estado policial por gente jovem:
‘The left has been infected by the disease of intolerance’
American free speech warrior Wendy Kaminer on liberals, hate speech and
how students have become 'Young Authoritarians'.
http://www.spiked-online.com/index.php?/site/article/2031/
Não tendo eu competência/motivação para grandes distinções
"direita"/"esquerda", parece-me que pelo menos por cá restringir a
atitude à 'left' seria uma visão bastante incompleta. Aqui por
Portugal, creio que quase todos os partidos representados na A.R. já
manifestaram o que era essencialmente apoio (por vezes bem entusiástico)
a medidas censórias: aquela versão perversa da liberdade de expressão
que só é legítima enquanto não atravessar a fronteira do nosso incómodo,
ou do incómodo de alguém que nos dê por isso umas pequenas trabalheiras.
Por outras vias, o dinheiro vai lubrificando. Já em 1999 havia bons
euros à espera para as medidas de "auto-regulação", e (como se costuma
dizer do ditador de bigodinho) "eles" já tinham posto por escrito o que
iam fazer, incluíndo as hotlines para depósito de denúncias:
http://www.gildot.org/articles/99/09/21/1812216.shtml
A Microsoft já lá estava sentada com outros à mesa, e em grande no meio
de tudo o grupo Bertelsmann, o mesmo da BMG e do nosso Círculo de
Leitores e de toneladas de outros "conteúdos".
Entretanto, da Aministia,
http://irrepressible.info/
``Chat rooms monitored. Blogs deleted. Websites blocked.
Search engines restricted. People imprisoned for simply
posting and sharing information.
The Internet is a new frontier in the struggle for human rights.
Governments – with the help of some of the biggest IT companies in the
world – are cracking down on freedom of expression ... ''
Louvável. Mas infelizmente parece que a própria Amnistia Internacional
(que noutros contextos me foi parecendo merecer o maior respeito) tem
algumas nódoas e pruridos quanto ao que considera liberdade de
expressão. A lista de países "distantes" é sempre mais fácil de aceitar
no nosso quintal para juntar a outras causas da moda, pelo menos se as
reclamações internas não forem de peso: China, Arábia Saudita,
Vietname, ... E, no entanto, França, Alemanha, Canadá, e mais alguns do
"Ocidente civilizado" têm também boas razões para figurar na lista com
os seus respectivos fantasmas, nos territórios em que uma mão aceita
(por exemplo) poder definir partes da História como dogma-de-estado
fixado em pedra e inacessível à discussão por decreto, sob graves penas
--- enquanto a outra mão celebra memórias de combate de métodos cada vez
mais científicos com dogmas-de-estado.
A atitude sistemática de "making the Internet safe for business"
(frase mais usada em contexto de encontro ou artigo para a indústria,
mas traduzida nos media mais por "making the internet safe for
children", ou "terrorism prevention") tem trivialmente como limite a
redução da Internet ao mínimo aceitável comum não a níveis nacionais mas
a nível planetário. As facilidades de extradição e a elevação como
fundamental de um novo "direito de grupos à não ofensa" darão o resto da
ajuda. O próprio sítio de denúncias alojado na FCCN refere
entusiasticamente que a lei não é a mesma em todo o lado mas lá vai
sugerindo a denúncia mesmo que não seja tão-ilegal-assim algures.
Só falta um banner animado a dizer
"e agora, com um guia interactivo
para encontrar as regiões de ilegalidade".
Em vez da simplicidade da Primeira Emenda dos EUA, não "assegurando"
liberdades ao cidadão mas colocando restrições legislativas ao estado,
promete-se (à maneira da constituição soviética) "garantir a liberdade
de expressão", pavimentando depois em muitas alíneas todas as excepções
que servirão de caminho para desmontar a dita liberdade. Diz quem o leu
(anexos incluídos) que o projecto de pseudo-constituição europeia assim
era (aposto que ainda assim será, baptizado de "tratado").
Sorry por mais um gigante off-topic aqui, mas a Europa tem sido
demasiado rica em murros no estômago.
Cumprimentos
J Esteves
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