[ANSOL-geral] Re: Digest Ansol-geral, volume 43, assunto 21

J M Cerqueira Esteves jmce artenumerica.com
Terça-Feira, 19 de Junho de 2007 - 03:04:50 WEST


Carlos Patrão wrote:
> Seria bom que empresas, associações e fundações, assumissem um papel
> determinante no combate à info-exclusão

Alguém pode fazer uma pausa e explicar o que é isso da info-exclusão
e o que acontece se não a combatermos?

É não ter acesso a computadores, software, e telecomunicações?

É não ter passado (de quem quer que tenha sido a culpa, o próprio
incluído) por uma educação razoável?

E se for a segunda, o combate faz-se atirando dinheiro, computadores e
software ao problema, encarando os professores e o ensino 'normais' como
acessório educativo descartável [1], o esforço individual do 'excluído'
como supérfluo e a aprendizagem como um acto passivo de download?
Ou o resultado mais provável é
- a aparência prestigiante via agência de comunicação dada pelas
infalíveis imagens de 'sucesso' de docentes e discentes em volta do hardware
- e business as usual
- e no fim mais 'info-exclusão' da mesma?

Precisamos *mesmo* de combater uma tal de "info-exclusão", ou no fim do
dia a forma esse 'combate' tende a saber a mais pão e circo?
Ou precisamos de combater a falta de educação?  Com uma educação a
sério, quanto tempo dura a tal da info-exclusão?

Quem, com conhecimentos 'na óptica do utilizador' de Word e Excel
e PowerPoint e AutoCad e catedrático ou não, comissário europeu ou não,
acredita teimosamente que o voto electrónico sem 'paper trail 'é
seguro', é ele info-incluído?  Conseguiu por uns minutos na vida
perceber a ideia básica do que é um computador, mesmo na visão mais
simplificada possível? Tem preparação e autonomia não só para ser
'utilizador', mas também para perceber as implicações das tecnologias a
que tem a vida vez mais ligada?

E os responsáveis estatais pelas decisões do "combate", estão
info-incluídos?

Sorry pelo cinismo, mas este cerimonial do 'combate à info-exclusão'
acaba por me parecer quase sempre demasiado demagógico, fútil,
propagandístico, e com premissas erradas desde uma raíz demasiado funda
para sentir sequer motivação para o tornar um pouco menos mau com um
pouco menos de MS e um pouco menos de corporate welfare.  A "literacia
digital" conforme cozinhada pela Microsoft nem sequer me parece uma
distorção do combate.  Pode ser um espelho curvo, mas é um espelho bem
polido de como isto facilmente acaba.

TTFN
                                  jm

[1] Por várias vezes, alguns professores (alguns dos quais
inclusivamente são carolas-de-serviço
administradores-de-sistemas-oficiosos em mais um meio em que ministros
pensam (?) no hardware e no software vistoso mas não nos recursos
humanos para depois gerir e optimizar usos de recursos) me deram a ideia
de que a visão do ensino que os envolve cada vez mais é a de um
"processo" onde os programas ministeriais (mediados pela magia
informática, ora bem) fazem toda o feitiço insubstituível, enquanto o
professor é encarado como um periférico ou um consumível de competência
e qualidade pouco relevante.





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