[ANSOL-geral] ANSOL , Plano Tecnológico e Portáteis
J M Cerqueira Esteves
jmce artenumerica.com
Domingo, 17 de Junho de 2007 - 18:38:11 WEST
Ruben Leote Mendes wrote:
> Em Dom, Junho 17, 2007 14:19, id3 ideias3.com escreveu:
>> Outra coisa que não sei se estaria correcto falar aí, era passar a cadeira
>> de TIC (Disciplina de informática básica do 9º e 10º anos) a usar software
>> livre. De momento é tudo M$, e no ensino não faz qualquer sentido usar
>> tecnologias proprietárias. Se eles nunca conhecerem um OpenOffice ou isso,
>> como é que no futuro o vão usar?
Se fossem bem ensinados, se mesmo usando MS-only o ensino não estivesse
focado "no produto", usariam mais tarde "OpenOffice ou isso" como os que
o usam OpenOffice ou LaTeX sem terem usado um processador de texto no
tempo em que não havia computadores nas escolas.
Mas há um problema ainda mais fundo do que a MS-perversão: a ideia de
que é preciso "treinar" em ferramentas muito concretas nas escolas, que
sistematicamente me parece sinal de calamidade didáctica. Acho que nem
algo como "introdução ao uso de um processador de texto" devia fazer
parte de um programa escolar (a qualquer nível), mas pelo menos seria
menos mau do que "introdução à versão X do processador de texto Y".
E já agora, se fosse para ser o "processador Y", eu escolheria LaTeX.
A resposta naba do costume é "mas onde é que eles vão usar LaTeX?".
Eu poderia responder "onde é que eles vão usar Word daqui a 15 anos?",
mas a resposta mais importante à resposta naba é que assim aprenderiam
mais sobre a própria escrita, sobre computadores, e sobre como pensar,
talvez ajudando-os a aprender sozinhos quando precisarem
de aprender o que ainda não imaginamos sequer.
Outra resposta naba, que já ouvi na FCUL há muitos anos quando sugeri a
um assistente que se impusesse instalação exclusiva de software livre
nas máquinas para estudantes do Departamento de Física, foi "mas o que
eles têm em casa é o software da MS"... ao que eu respondi perguntando
se a FCUL queria deixar de ensinar mecânica quântica, física
estatística, e outros tópicos que eles "não têm em casa".
Mas a moda é "treiná-los", em vez de os educar para serem capazes de
aprender por si, e acha-se que a criancinha tem de começar muito cedo a
ser exposta ao computador para não ser "info-excluída", como se os
elementos que fazem a perícia ao computador necessitassem de ser
preparados frente ao computador (ou fossem mesmo todos possíveis de
assimilar frente ao computador). Quanto a isso, eu diria que sorte
tiveram os que informaticamente começaram com meios limitados, pela
intuição que ganharam; e ainda hoje o ensino com ferramentas limitadas
poderia ser didáctico, como até o Knuth já sublinhou. Pessoalmente a
primeira máquina 'programável' que usei foi uma TI-57, só quando tinha
15 anos e não a podia usar em testes, e não foi "apesar disso" que
aprendi a programar. Pessoalmente, também não me "formaram" em Wordstar
durante a licenciatura, clara lacuna neste mundo moderno. [Por acaso
pela mesma altura descobri como o TeX era bastante mais potente e
comecei a usá-lo, e por acaso ainda é esse que me é útil (mesmo que em
várias encarnações) 20 anos depois para qualquer tipo de documento e com
tipografia muito mais cuidada que as dos utilizadores "treinados" de
outro ferramental mais, digamos, "sofisticado".]
> Pelos vistos TIC vai passar para o ensino básico. Talvez seja uma boa
> oportunidade para passar também para software livre.
Mas também para aprenderem a ler, escrever, e contar. Parece haver uma
corrente que acha que com os meios informáticos se podem saltar passos
da educação. A criancinha tem calculadora gráfica, portanto deve poder
saltar por cima de uma fase de representação gráfica fastidiosa, manual,
de uma função e usar logo a calculadora para lhe "desenvolver a
intuição". Idem ainda mais cedo, com a mera aritmética.
Só que a intuição vem muito do "passar [com vagar] pelas mãos".
Claro que, depois de fazer sem a máquina, experimentar com a máquina
pode (pelo menos para alguns) dar naturalmente resultados interessantes;
resultados milagrosos para suprimir passos "dolorosos" é que não convém
esperar.
> "A disciplina de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) é
> transferida do ensino secundário para o ensino básico, considerando-se ser
> a esse nível que deve ser adquirida a formação essencial nesta área,
> apostando-se na transversalidade da utilização das Tecnologias de
> Informação e Comunicação no nível secundário de educação." [0]
Ouch. Bestas info-excluídas com poder de decisão, é o que apetece dizer.
jm
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