[ANSOL-geral]Entrevista para a revista Visão

Jaime E. Villate villate arroba gnu.org
Mon, 25 Mar 2002 15:02:17 +0000


Viva,
Acabei de falar ao telefone com Ana Correia Moutinho da revista Visão, que já
tinha falado com João Miguel Neves. Telefonou-me a pedir que lhe responde-se
algumas perguntas sobre o Software Livre e a ANSOL. Vou tentar fazer um
sumário da nossa conversa, embora seja difícil lembrar toda a nossa conversa e
não vou incluir muitos pormenores de coisas que já sou conhecidas nesta lista.

Começou por referir que tinha falado com o presidente da ASSOFT quem disse que
o principal problema para a adopção do Software Livre nas empresas é não ter
alguém por trás que assuma responsabilidades quando acontecer algum problema
ou quando for preciso algum suporte técnico.

Eu respondi que os vendedores de software proprietário não assumem nenhum tipo
de responsabilidade perante o uso dos produtos que vendem, a menos que exista
um contrato especial, ou seguro, com alguma empresa. E esse tipo de contratos
e seguros também podem existir para o software livre e não só para o
proprietário. Em relação ao suporte técnico, a maior parte do software
proprietário usado em Portugal é estrangeiro e em Portugal só existem
vendedores que não têm o conhecimento técnico para dar suporte; em caso de
problemas será preciso procurar ajuda por fora. Neste caso também existem
empresas que dão suporte ao software livre. E existem muitas listas de correio
onde os utilizadores recebem ajuda voluntária na resolução dos seus problemas
dentro do espírito de comunidade que gera o soft. livre.

Neste ponto Ana Moutinho disse que precisamente o tema da possibilidade de
fazer negocio à volta do software livre era outro dos pontos dos que queria
falar. Conversamos sobre as várias possibilidades de negocio à volta do
soft. livre, o modelo de outros países e a necessidade de adoptar um modelo de
negocio diferente do usado no software proprietário. Aproveitei para usar a
analogia que costumo usar: eu sou Físico e vivo muito bem sem necessidade de
reclamar nenhum tipo de "propriedade intelectual" pelo meu trabalho (bom,
realmente recebo um pequeno montante por "direitos de autor" mas é uma
percentagem muito pequena dos meus ingressos e achei que não valia a pena ser
referido :-)

Mostrou estar consciente da grande importância que tem ganho ultimamente o
GNU/Linux mesmo no sector empresarial e perguntou-me porque achava que uma
empresa como IBM estivesse a apostar no software livre. Respondi que a IBM tem
sido sempre uma empresa com uma boa visão de futuro e, por exemplo, nos
Estados Unidos é conhecida por apoiar investigação científica em áreas que
aparentemente não têm nada a ver com o software. Obviamente que faz isso com
algum interesse comercial, mas em vez de se preocuparem unicamente com o lucro
no próximo ano, estão a pensar nas próximas décadas e por isso apostam em
novas tecnologias. É preciso que outras empresas percebam que para poder fazer
negócio com o software livre deverão estar dispostas a mudar o seu modelo de
negócio e a investir num sector que por sua novidade envolve muitos riscos mas
também abre novas possibilidades. Também não podem esperar que por desenvolver
software livre, vão arranjar automaticamente voluntários que trabalhem de
graça no seu desenvolvimento.

Finalmente perguntou-me quais são os principais objectivos imediatos da ANSOL
agora que já vai ter órgãos directivos. Respondi que estamos a trabalhar em
várias acções, mas que a principal neste momento é informar à classe política
sobre o software livre, pois existem muitos mitos à sua volta e a situação
política actual exige que estejam bem informados. Uma outra tarefa muito
importante é impedir que sejam aprovadas leis que atentam contra o software
livre, como as patentes de software e as novas interpretações dos direitos de
autor (nestes campos já estava bem informada, depois da conversa com
João). Perguntou-me quem achava eu que seria mais afectado por essas novas
leis; respondi que todos seremos afectados, principalmente os utilizadores de
software e especialmente países como Portugal. As novas medidas, que pretendem
defender aos autores, vão prejudicar os autores portugueses que não vão poder
concorrer contra monopólios de grandes empresas de países desenvolvidos.

Acho que isso foi tudo. Espero que publiquem um bom artigo.

Cumprimentos,
Jaime