[ANSOL-geral][Fwd: Re: informacoes sobre software livre]

J M Cerqueira Esteves jmce arroba artenumerica.com
Sat, 16 Mar 2002 09:09:26 +0000


* Rui Miguel Silva Seabra <rms arroba 1407.org> [2002-03-16 03:01 +0000]:
> Em geral gostei bastante do teu email informal. Contudo, disseste nele
> uma coisa que, derivado da confusao frequente dos termos comercial e
> proprietario, pode fazer mais mal do que bem.

Também achei muito bom, e pode ser que o nível informal ajude mais a
comunicar do que outros estilos de conversa com que devem estar a ser
bombardeados especialmente nesta altura (todas e mais algumas causas
se têm manifestado nos últimos dias... acho que só nestas eleições
estive com atenção a isso).  Também é refrescante por contraste com a conversa 
Dilbertiana buzzword-compliant dos marketing droids da MS e afins...

Realmente só aquela frase parece ter escorregado.  O problema não é só
o sector político para onde foi mas também o facto de cair direitinha
na estratégia de FUD da Microsoft segundo a qual o software livre
acaba com as possibilidades de desenvolvimento de software.  E, mais
importante do que as considerações estratégicas, o facto de
sinceramente não se querer afirmar aquilo (suponho que o Vasco não
queria dizer exactamente aquilo, mas que saiu assim pelo nível
informal), não propriamente para escamotear algo mas porque promove a
tal confusão e porque pode ter pouco a ver com a realidade.

> Neste momento nao sei o que sera pior, exclarecer o erro, ou esperar que
> ele passe mais despercebido.

Acho que tem menos possibilidade de passar despercebido do que outras
partes das boas.  Eu sugiro que se corrija, explicando-se que se
queria (se for esse o caso) dizer algo como "ao haver soluções de
software livre disponíveis num determinado domínio, é mais difícil
software proprietário de funcionalidade equivalente atingir custos
muito altos".  Claro que se o mercado migrar mesmo em massa para a
versão livre esta pode ser vista como destruindo o negócio do outro,
eventualmente dependente na totalidade de espremer clientes no licenciamento.

Talvez possas referir a questão profiláctica de ajudar a prevenir
modelos de negócio em relação abusiva com os consumidores (em termos
de restrições, legais ou tentadas mas ilegais), como acontece cada vez
mais com as licenças proprietárias.  "Defesa dos consumidores" toda a
gente ou quer fazer ou diz que quer fazer...

Por outro lado, a prática até hoje tem mostrado que não acontece
necessariamente a extinção do concorrente.  Não estou só a pensar em
produtos de implantação mais forte como os da MS.  É que para muitos
clientes, em muitas situações, a questão do preço do software não é a
mais relevante, como em tempos o Leitão aqui assinalou.  Creio que um
artigo recente sobre o Linux na indústria cinematográfica apontava
precisamente isso (pelo menos quando se fala das máquinas onde
trabalham directamente os artistas, usando sobre Linux software
proprietário muito caro, por comparação com as centenas de
computadores que ficam a fazer rendering).  A secundarização do preço
acontece seja face aos custos totais de uma solução, seja por
funcionalidade especial de que precisam, seja por terem alguma
percepção da alternativa proprietária (ou do suporte fornecido) como
mais fiável, seja por julgarem que ficam com uma opção mais
competitiva, etc.  Acho que o modelo de negócio de software
proprietário continuará bem vivo por muito tempo, tanto através das
empresas mais fortes como através de fornecedores para nichos muito
especializados, mesmo com lucros inferiores aos de agora e havendo
excelentes progressos na implantação do software livre..

<parêntesis>
Sugiro ainda que se vá deixando portas abertas para o software livre
ser pago.  Acho que mais facilmente nos lembramos disso quando é o
nosso, e nos esquecemos quando é o feito por outros.  Exemplo: Em
alguns casos em que fui questionado sobre as licenças do Linux que
instalava também apontei que essa parte tinha custo zero.  Mas
gostaria de tentar fazer algo diferente.  Isto é, nunca deixar de
informar o cliente de que aquele software, dado ser livre, pode ser
copiado livremente e portanto ser obtido a custo efectivo praticamente
zero, mas ao fazer o preço total de um serviço que envolva a
instalação incluir mais qualquer coisa que possa ser devolvida à
comunidade que faz o desenvolvimento, por exemplo ao projecto Debian.
Afinal estou a usar trabalho excelente de milhares de pessoas (GNU,
Linux, ..., Debian, ...)  que se dispuseram a usar licenças livres, e
num trabalho que consiste em usar esses elementos quase como peças de
Lego estou a ser apenas eu pago. Como uso sempre Debian, nem sequer
tenho a "caixa oficial comercial" para colocar no pacote e dizer que faz
parte do preço total.

É claro que podemos sempre ir doando qualquer coisinha, mas também
pode não ficar mal acrescentar 5 ou 10 contos a um preço a pensar
nisso, quer se indique ou não claramente ao cliente o destino dessa
parcela.  Já tive casos em que me perguntaram "compramos nós o CD de
`Red Hat'?".  Nesses casos parecia preocupá-los pouco pagar o preço de
uma distribuição das vendidas em caixas bonitas (e frequentemente
conhecem mais esse lado do Linux, que lhes chega antes dos outros via
prateleiras das lojas, (daí as referências mais comuns a Red Hat e
Suse)).  Pode ser muito pouco relevante para eles, face ao preço total do
serviço e face ao preço total que seria atingido pelas licenças de
software proprietário equivalente.

Isto vem a propósito das referências a "custo zero", que às vezes
merecem alguma cautela até por expectativas erradas que podem criar.
</parêntesis>

Resumindo: talvez se consiga clarificar o assunto sem grandes problemas.
Aproveita-se e marca-se a distinção entre "proprietário" e "comercial",
talvez chamando também atenção para as diferenças em relação a outros
nomes que eles provavelmente ouviram muito mais:

- freeware (as in MSIE);
- shareware;
- domínio público.

(E, talvez melhor para deixar para um contacto separado por causa dos
pormenores, a distinção entre software livre e as perversidades da
"shared source" da MS).

Cumprimentos
                       JM