[ANSOL-geral]Proposta de carta para a ASSOFT
J M Cerqueira Esteves
jmce arroba artenumerica.com
Wed, 16 Jan 2002 22:27:23 +0000
* nuno.leitao arroba idl-bt.com <nuno.leitao arroba idl-bt.com> [2002-01-16 20:45 +0000]:
>
> Nao, nao funciona assim. E e' por isso que referi este exemplo no e-mail
> anterior. Existem muitos pacotes de software que seriam *impossiveis* de
> criar sem intuitos comerciais pois sao demasiados complexos para construir
> sem uma estrutura organizacional e financeira forte (e evidentemente isto
> custa $$$). Para teres uma ideia da complexidade, o tal pacote da Geneva que
> referi (http://www.gtl.com) e' composto por centenas de modulos e
> componentes e levou centenas de anos-homem a desenvolver ate' ao ponto em
> que esta' hoje.
Que há problemas ainda sem soluções criada com licenças livres, não é
de admirar. E também não me surpreende se a curto prazo poucos
adeptos de software livre tiverem motivação ou preparação suficiente
para desenvolver software nalguns dos campos onde ele falta. Mesmo
assim todos os anos fico surpreendido com os progressos.
Um campo com muitos problemas por resolver em software livre é o
cálculo simbólico, por exemplo. Parece infelizmente ainda não haver
algo livre de aplicação tão geral como o Maple e o Mathematica. No
caso específico deste tipo de software, mais do que os "autores a
exercer a sua liberdade" talvez boa parte do licenciamento restritivo
tenha mais origem na tentação de instituições académicas de (tantas
vezes à custa de dinheiros públicos) arranjar mais uma fonte de
dinheiro.
Acho que vale a pena chamar a atenção do Nuno Leitão para que, ao
sugerir aos outros que eles não conhecem a realidade do software, ele
não aparente desconhecer boa parte dela também. Isto porque acho que
conhece alguma história do campo suficiente para perceber como a visão
escrita e sublinhada de
*impossíveis* de criar
(com base no grau de complexidade) está já ultrapassada.
Não o digo quanto aos "intuitos comerciais", já que as motivações para
escrever software livre podem ser de muitos tipos, até comerciais, mas
por supor que queria referir-se, com "comercial", a software
não-livre. Quando fui vendo as palavras "impossível" e "utopia"
lembrei-me das 1517 packages instaladas neste "modesto" computador
para uso pessoal, 1517 entre as 8333 packages Debian que podia
escolher neste momento, a esmagadora maioria das quais com licença
estritamente livre. É verdade que alguns destes programas podem ser
vistos como software simples desenvolvido a um nível mais "amador",
que alguma imprensa gosta de realçar quando fala de software livre,
mas de forma alguma isso me parece ser o mais representativo do nível
de qualidade e complexidade dominante na paisagem de software livre.
É que se se achar razoáveis as estimativas em, por exemplo,
http://www.dwheeler.com/sloc/redhat71-v1/redhat71sloc.html
e se software deste valor e grau de complexidade é *impossível* de
aparecer como apareceu, estou a trabalhar diariamente com uma alucinação.
> para uma associacao como a ANSOL de compreender estas diferencas, e os casos
> em que um tipo de produto e' mais apropriado do que outro.
Não vejo razões de princípio nem exemplos históricos para se dizer que
software proprietário é melhor do que livre. Bom e mau trabalho
técnico pode existir de ambos os lados. Quanto ao "apropriado" do
ponto de vista de quem quer resolver um problema a curto prazo, a
diferença essencial parece estar, num dado momento, na existência ou não
de soluções já preparadas de um ou do outro tipo. Em diversidade e
quantidade, especialmente em certos ramos, falta ainda produzir muitas
soluções livres, mas quanto à qualidade pessoalmente sinto o contrário
do que parece ser um lugar comum: quando existem soluções amadurecidas
de ambos os tipos, tenho percebido sistematicamente o software livre
como mais fiável do que o correspondente não-livre.
> Se tomarem uma atitude publica que tenta representar o software
> livre como a escolha a tomar em descredito do software comercial
Acho que ninguém tenta lançar "descrédito". A questão das licenças é
uma, a da qualidade técnica ou "existência e unicidade" é outra.
Claro que do ponto de vista comercial do cliente, a liberdade
de uso pode ter vantagens técnicas e estratégicas também, mas
sobre isso cada cliente decide e vive com os resultados das decisões.
> independentemente do objectivo do software, entao para muita gente,
> e desculpem pela frontalidade, a ANSOL nao vai passar de uma
> associacao de academicos com uma filosofia que nao e' clara nem
Talvez eu conheça os académicos errados ou talvez tenhas de actualizar
os teus contactos académicos, já que nesse meio a noção
convenientemente confusa de "propriedade intelectual" me parece estar
muito "in" e os ideais de liberdade me parecem ter tido melhores
dias...
TTFN
JM