[ANSOL-geral]Busca de projectos open-source portugueses...
Luciano Miguel Ferreira Rocha
strange arroba nsk.yi.org
Wed, 9 Jan 2002 03:53:43 +0000
Nao concordo com que escolher uma licença sejua um uso de um poder.
Para mim, *criar* é uso de poder, escolher a licença é um direito que
me assiste, e é uma forma de dar *mais* direitos às pessoas.
Que a licença dê mais ou menos liberdade não signifique que a remova,
ou que se imponha sobre os outros. Aliás, as únicas que não se impõem
são a BSD e a Public Domain. Nestas sacrificamo-nos incondicionalmente;
noutras nem sequer fazemos qualquer sacrifício; e na GPL sacrificamo-nos
condicionalmente (ie na condição do próximo também se sacrificar).
Mas eu uso e prefiro a GPL, primariamente não por representar mais
liberdade, já que não a representa, mas porque neste mundo
representa melhor os meus ideais.
On Tue, Jan 08, 2002 at 09:45:32PM -0500, Rui Miguel Seabra wrote:
> Ao criar esta-se a produzir codigo que nao permite o uso das liberdades
> a que temos direito.
Nunca tivemos direito. Nunca tivemos direito ao que não é nosso, e
nunca tivemos direito ao que nunca foi criado. Não estamos a falar
de patentes de software, mas como alguém decide distribuir uma criação
sua.
> Ao usar, esta-se a dar incentivo para se continuar a produzir.
E é direito dessa pessoa incentivar, se assim quer. Claro que não devia,
e para isso está cá a ANSOL: para lhes indicar os problemas disso, as
vantagens do software livre, e as alternativas de que dispõe.
> > E conforme está definido o conceito de liberdade neste mundo de ago=
ra,
> > alguém ir contra a tua ética ou moralidade não é um acto de v=
iolação da
> > tua liberdade. Pelo contrário, expressares o teu desprezo ou prefer=
ência
> > conforme essa ética ou moralidade já vai contra o princípio de =
liberdade
> > nalguns países (notoriamente nos EUA).
>
> Esse e o desejo de muitas companhias (Microsoft e outras) e associacoes
> (RIAA, MPAA, etc).
Esse não é o desejo de muitas companhias, mas o desejo de 99.9% das pessoas:
que as suas vontades e desejos sejam definam as liberdades. As companhias
apenas desejam ganhar rios de dinheiro e destruir a concorrência satisfazendo
os desejos reais ou induzidos das pessoas.
> Ha-que lutar contra isso. Felizmente nos EUA ha sempre o ultimo recurso
> (far west)
Pois que se lute. Mas o que dizeis é que não há nada contra que lutar:
que as pessoas não têm a liberdade, logo o direito de escolher que
software usar ou que licença usar no seu software. Não lutam pelo Software
Livre, mas pela imposição do software livre.
> Tem a liberdade de usar o software melhor indicado para o seu caso, mas
> deve-lo-ia fazer com consciencia de que ao faze-lo esta compactuar com
> todo o mal que vem por detras.
Então tem a liberdade para o fazer ou não?
> E como o caso da Triumph e as equipas
> femininas de esquiadoras dos jogos olimpicos de inverno. Estas equipas
> recusaram-se a usar do patrocinio da Triumph por esta cometer grandes
> males (como copactuar com o regime ditatorial e opressivo da birmania a
> fim de ter mao de obra barata... ao preco da chuva).
Isto é um exemplo de pessoas que decidiram usaram da sua liberdade *contra*
_o mal_. O que pedis é que essas pessoas nem sequer tenham liberdade de se
decidirem pelo patrocínio. E nesse caso, que valor teria essa decisão?
> Quanto ao poder de escolher uma licenca, rele o que disse e le:
>
> Freedom or Power? http://www.gnu.org/philosophy/freedom-or-power.html
Esse artigo restringe Liberdade aos actos que apenas nos afectam
individualmente, e define os outros actos, os que afectam não apenas a nós,
como Poder. Sendo assim, que liberdade existe? Não vivemos em sociedade,
e assim não afectam todos os nossos actos os ao nosso redor?
> > Afinal, também aceito a liberdade que cada um tem de decidir ser um=
justo
> > ou um iníquo...
>
> Eu tambem acho que os neo nazis teem todo o direito de se expressarem
> num website, em jornais, etc.
> Ja nao acho e que devam expressar-se com uma maca de guerra na cabeca d=
e
> alguem que (na sua perspectiva) nao e geneticamente puro.
Falo em imposição (de ideais, de escolha), falas em actos (assassínio).
Eu digo que a primeira vai contra a liberdade, dizes que a segunda vai contra
a liberdade, e usa-la como exemplo para que a primeira não vá contra a
liberdade.
O direito de que falas dos neo-nazis se expressarem em websites ou em jornais
é o que eu considero entrar na categoria de escolha de licença. Até agora
ninguém me conseguiu convencer que a escolha de uma licença, por parte de
alguém, vá contra a minha liberdade. E pelo contrário, considero muitos
casos de liberdade de expressão como atentados contra a minha liberdade.
> > Não querer aceitar as consequências dos seus actos não é sinó=
mino de lhe
> > terem pisado a sua liberdade...
>
> A consequencia de deixares que te coloquem grilhoes a volta das pernas =
e
> ficares preso.
Que inventem grilhões não me prende as pernas, até alguém os decidir usar
para esse fim. Inventarem grilhões e não divulgarem o meio de os abrir sem
ter a chave é chato para mim, pois terei que ir por tentativas, e é chato
para os serviços prisionais, pois não poderão remover essa _funcionalidade_.
Mas neste caso não é a empresa ou pessoas que inventaram esses grilhões
que me prenderam. (A não ser que seja de fabrico próprio...)
> > Não tenho gostado desta conversa, e gostei menos quando o RMS indic=
ou
> > uma página do RMS original em que este dizia que as pessoas não t=
êm o
> > direito de escolher as suas licenças ou o software que usam.
>
> Rele-o. Nao o entendeste. Essa liberdade e na realidade o exercicio de
> um poder sobre os outros.
Eu não os obrigo, nem posso, a usar o produto que criei, como então
exercito poder sobre eles? Por não lhes dar os meios não de o alterarem
mas de alterarem o que lhe deu origem?
> Agora, o Stallman nao e um policia, e luta
> dentro das armas disponiveis: a comunicacao e difusao das suas ideias.
Mas nesse texto ele luta como polícia. Não tenta difundir a ideia que
o Software Livre é o mais justo; que oferece partilha de conhecimentos
e de ideias; que oferece mais liberdade aos que o usam e o criam. Mas
sim que o Software Livre *é* obrigatório, o único que respeita a
liberdade dos cidadãos...
> > E ainda gosto menos quando me lembro que toda esta intransigência é
> > parcialmente hipócrita pois os que a apregoam aplicam a sua filosof=
ia
> > restringida ao universo do "software", ignorando todos os outros em
> > que este se inclui e depende....
>
> Nao e hipocrita. E uma frente de batalha. A AMI, por exemplo, segue
> outras frentes.
Deveria ter antes usado o termo "inconscientemente hipócrita". E é-o
na mesma frente de batalha: propriedade intelectual, de que o
conhecimento humano é para ser transmitido e livre. Discriminá-la
apenas em software ignorando o resto (hardware, etc) adultera a
filosofia e despe-a de autenticidade.
> Cada um ajuda no que pode e no que acha que consegue dar a melhor ajuda.
>
> Assim se desenvolve o software livre, da mesmo forma como se constroi u=
m
> mundo melhor. Ajudando cada um um bocado... um bocadinho que seja!
Sim, sim, concordo com isso e esses ideais. Mas em cima não falas em
ajudar, em voluntariado, mas em imposição, obrigatoriedade.
Continuarei a suportar o software livre, enquanto este for Livre, e não
obrigatório...
Cumps
Luciano Rocha
--
Luciano Rocha, strange arroba nsk.yi.org
The trouble with computers is that they do what you tell them, not what
you want.
-- D. Cohen