[ANSOL-geral] As Organizacoes Colectivas e a ANSOL

J M Cerqueira Esteves jmce arroba artenumerica.com
Thu, 14 Feb 2002 20:20:39 +0000


* Lopo de Almeida <lopo.almeida arroba sitaar.pt> [2002-02-13 23:58 +0000]:
> 1. Se eu tenho de AINDA usar o Windows e' porque a maior parte dos
> meus clientes actuais usam programas com ficheiros de formato
> proprietario e eu tenho de ter as mesmas coisas. Preciso de comer,
> sabes.

Compreende-se que nem todas as pessoas consigam evitar software
não-livre para certas tarefas.  Acho que ninguém insinuou que era
fácil evitã-lo.  Há actividades e formatos onde faltam ainda muito
ferramentas livres.  Uns têm a felicidade de usar apenas SL, outros
não.  Indo mais longe, tomara eu usar software livre quando
uso o Multibanco.  

Mas de forma equivalente também custa ouvir insinuar que quem tenta
promover ou pelo menos usar software livre é um lírico que não conhece
a realidade da vida em geral e de trabalhar para ganhar a vida em
particular.

No caso da Arte Numérica, uma das poucas decisões tomadas no início
sobre o que iríamos ou não fazer tinha a ver com os sistemas
operativos que íamos usar como plataforma de trabalho, como base de
soluções e como software a que poderíamos fornecer apoio.  Optámos por
não montar soluções centradas em Windows (sem ignorar que muita gente
as quer) e evitar sempre que possível usar software não livre,
centrando-nos sobre Linux ou, caso necessário, "orbitando" também
outras variantes de Unix (onde tínhamos alguma experiência de sysadmin
e de trabalhar com software livre).  Não apenas pela
questão da liberdade (para mim muito importante), mas também por
questões de:
- qualidade técnica;
- custos de desenvolvimento;
- maior ou menor risco de sujeição a caprichos de evolução de terceiros;
- qualidade da documentação e acesso à source como forma alternativa
  de conseguir informação: desenvolver software em plataformas MS, por exemplo,
  era considerado em muitos testemunhos que vi como algo bem complicado
  pela má documentação e pela omissão deliberada de informação.

A juntar a isto (e a uma tentativa de evitar juntar mais um factor de
dispersão à bruta tendência que já temos para ela) havia a experiência
anterior; até a experiência como utilizadores de Windows era
incipiente, e a vontade de aturar a instabilidade da coisa nenhma:
como utilizadores passámos por CP/M, MP/M (e o Spectrum, claro...),
VM/CMS, VMS, Unixes variados, MS-DOS e imediatamente depois, nos PCs,
Linux. Pessoalmente, nunca tive ou utilizei regularmente uma máquina
onde a plataforma normal de trabalho fosse Windows.  Não sei usar o
Word.  Desde 89 que uso TeX sempre que preciso de escrever no
computador (e temos a sorte de ter entre os clientes quem o use
também, mesmo que não sejam clientes empresariais, embora o TeX vá ser
parte de uma solução para uma empresa daqui a uns dias).

Assim, na prática não tivemos que mexer muito em software não livre
até agora, e as perspectivas sobre isso nunca pioraram. Não podemos
dizer ainda que somos uma "empresa de software livre" no sentido de
produzirmos sistematicamente software livre de forma "acabada" (tanto
quanto ele existe alguma vez em forma acabada) na forma de pacotes
decentes distribuíveis: vemos boa parte do que temos feito quase como
"Lego" feito com peças de software livre que resolve à medida
problemas de clientes, e que eles são livres de entregar em seguida a
outra empresa qualquer (é verdade que temos de passar a ser mais
claros na questão da licença; às vezes as coisas ficam portuguesmente
confusas).  Noutros casos trata-se de instalação e administração de
sistemas Linux para eles, e noutros ainda são serviços que estão
montados do nosso lado.  Gostaríamos de arranjar algum tempo para
pegar em algumas das soluções encontradas e que possam ter alguma
utilidade noutros casos, reprogramá-las de forma mais... inteligível e
pô-las online, mas ainda não estabilizámos por causa do trabalho que
vai aparecendo (e por desorganização pessoal e não do software livre)
a ponto de tratar disso (até as páginas WWW estão uma treta que nunca
mais foi actualizada).

Mas podemos dizer que, quase a 100%, vivemos de resolver com software
livre problemas dos clientes.  E se mais organizados fossemos muito
mais haveria para fazer com essas ferramentas.  Creio que não faltam
empresas em Portugal muito bem sucedidas a montar "construções Lego"
com software livre. E não o digo com base na ainda pouca experiência
comercial.
Há alguns anos fiz algum trabalho com uma empresa que não tem problemas
em usar qualquer tipo de software.  Junto com eles instalei 
máquinas Linux em centros do IAPMEI que facultavam acesso à
Internet, serviam impressoras e ficheiros, e preparei pessoas de lá
para o fazer também.  Nessa outra empresa disseram-me que por vezes
apresentavam ao cliente duas propostas: uma com NT, outra com Linux
(mais barata...) e que não faltavam clientes a preferir a variante
Linux.  E isto foi antes do grande boom em que várias empresas de
bases de dados se dispuseram a suportar Linux, e de os jornalistas
salivarem ao escrever artigos sobre o pinguim.

Digo isto tudo não para apontar o dedo a outras empresas que usam
outras ferramentas, mas porque também não gosto de ver generalizações
de "sinal contrário", insinuando que quem acha que se pode viver com
base em software livre é um lírico.

Lá instalámos alguns Windows como parte de certas tarefas (uma vez a
instalação de UM "simples" Windows 95 saiu mais cara ao cliente do que
várias cópias de Windows e certamente bem mais cara do que a
instalação de Linux no mesmo computador) e apoiámos alguma
configuração de computadores com Win NT e 2000 ligadas a sistemas que
instalámos.  De vez em quando há um outro documento Word ou Excel que
aparece, mas muito raramente tivemos que usar Windows (ou até Star
Office) por causa disso.  Até com os clientes se consegue sugerir o
envio de alguma info noutros formatos, claro que sem arrogância ou
desprezo pelas opções do cliente; simplesmente é assumido abertamente
logo à partida que *não* somos utilizadores de Windows.

> Eu, pelo menos, traballho numa empresa minha
> e tento fazer o possivel dentro dos meus ideiais.

Tudo bem.  E o mesmo deve acontecer com outras pessoas agora interessadas
na ANSOL, mesmo que discordem de outras opiniões.

> 5. Eu só gostava de saber porque e' que assusta tanto 'as pessoas
> que alguem possa achar que e' estrategico para o seu negocio apoiar
> uma associacao que serve, indirectamente, os seus negocios.

A mim não me assusta, mas como disse também não tenho uma opinião
clara formada sobre a relação preferível entre ANSOL e empresas.
Tanto com o chapéu da empresa posto com sem ele.
Creio que muitos outros também não.  Acho que te vi mais dizer que a
coisa assusta os outros do que vi os outros dizer que estavam
assustados.  Não estarás demasiado na defensiva, receoso do tal
suposto bando de líricos?

> Infelizmente e neste momento nao encontro alternativas SL para
> muitos dos programas que alguns potenciais clientes ate' gostariam de
> usar.. Podes sempre desempregar-te e tentar viver so' com o SL. Daqui
> a um ano falamos.

Sei perfeitamente que ainda não existem muitas das alternativas SL
necessárias.  Mas também é verdade que nem toda a gente precisa de se
desempregar para viver só com o SL.  Detecto combate às generalizações
com outras generalizações?

> 12. "Tu e os teus socios ate podem ser honestos e respeitadores de
> ideais, mas por cada um de voces ha milhares que nao querem saber
> deles para nada." - E assim se condena todos porque uns pecam. Gosto
> cada vez mais desta filosofia

Não estarás a "condenar-nos a todos" porque alguns disseram coisas
nem sequer condenáveis mas simplesmente que interpretaste mal?

> Sem mais e por mim esta' morto este assunto das empresas na
> ANSOL. Ja' percebi que nao querem porque nao querem.

Eu não percebi isso.  A minha percepção das pessoas envolvidas na
ANSOL não sugere nem de longe uma colecção de miúdos mimados com
birras...

> Portanto, manter-me-ei apenas como observador interessado - atraves
> da lista e da imprensa - nao pela exclusao das empresas (ou outras
> entidades colectivas) que e' uma decisao vossa e valida como qualquer
> outra, mas sim pela mentalidade que a originou.

É mau.  Mau por se poder perder contribuições interessantes e mau por
vir de um pressuposto de mentalidade... (digo pressuposto de mentalidade
porque não concordo com vários dos retratos disparados a queima-roupa
sobre a suposta mentalidade de quem teve outras opiniões
sobre as relações empresas-ANSOL).  Espero que reconsideres.
Se achas que a ANSOL tem algum interesse, é a contribuir (nem que
seja com alguma opinião ou informação útil que talvez não conheçamos)
que podes ajudar a que tenha ainda mais interesse para ti.
Se achas que falta a perspectiva do lado empresarial e que a tua é por
excelência uma perspectiva empresarial, talvez fosse interessante
não abandonares tão facilmente.  A não ser que internamente tenhas
decretado a ANSOL como inútil para defender os interesses de algo
que acredito sinceramente que te interessa, o software livre.