[ANSOL-geral]Sobre palavras "tabu" e anti-corpos e a caravana a pisar-nos

Carlos Baquero Moreno cbm arroba di.uminho.pt
Wed Dec 4 17:18:01 2002


On 4 Dec 2002, J M Cerqueira Esteves wrote:

> Podes de uma vez por todas exemplificar para os mais ignorantes alguns
> desses pecados da FSF e os anti-corpos correspondentes que foram
> criados?  Quais foram os prejuízos à difusão do software livre por =
parte
> desses anti-corpos? Incluis entre os anti-corpos aqueles que de qualquer
> forma seriam gerados entre quem de todo não toleraria licenças livres=
 /
> abertas / qualquer coisa parecida?  A partir de que fronteira podemos 
> gerar anti-corpos? Nenhuma?  Não ficando ninguém para "incomodar", re=
sta
> alguma coisa para promover?  O que se deve promover afinal?
> E devemos estar sempre na perspectiva de "desculpem qualquer coizinha"?
> Quem precisamos apaziguar? Jornalistas?

Não vou conseguir precisar agora e com exemplos credíveis as situações
concretas em que vi esses anti-corpos a serem criados. Correndo o risco de 
meter tudo no mesmo saco, são impressões que fui recolhendo ao longo dos anos, 
em coisas que li e conversas que tive. As minhas desculpas, pela assumida
fraqueza da resposta. 

Para mim a fronteira a partir da qual se geram anti-corpos é quando se assume 
que há uma receita unica para todos os males. 
Por exemplo não acho que o LGPL seja sempre pior do que GPL e por ai adiante. 

Contudo, concordo plenamente que uma vez escolhida uma licença, por exemplo a
GPL, a batalha juridica pelo direito à sua interpretação estrita tem
obviamente de ser digital. Aí não há interpretações ideológicas, há o
direito do autor de escolher e garantir um dado modelo. 

Acima de tudo acredito na liberdade do autor de definir como é aplicado o
seu trabalho. 

Um programador que faz código fechado ao fim da tarde na sua casa e que o 
vende ou coloca na Net não é um ser maléfico. 

Maléfico é um estado requerer ou divulgar documentos que só podem ser 
manipulados por software fechado comercial. 

> 
> Uma estrita "delegação portuguesa da FSF" incomodaria?  

A mim não me incomodaria nada. A postura seria claríssima. 

> Pode ser que
> incomodasse alguém, mas tendo em conta o contexto actual, tomara eu que
> exista PELO MENOS algo como isso.  Com todos os defeitos que se lhe
> possa apontar, a FSF "gets things going".  Se nós passarmos o tempo
> a discutir que não-podemos-ser-só-carne-nem-podemos-ser-só-peixe
> porque ui! isso "pareceria radical", no fim não seremos nem carne nem
> peixe nem coisa nenhuma.

Sim, mas uma alimentação saudável tem todos os alimentos :). Acho, que se deve
adoptar as posturas rígidas onde elas são mesmo necessárias. Por exemplo,
para verificar se existe spyware basta poder olhar para o código, não é
preciso poder distribuir modificações. 

Por exemplo, no que toca a posturas rígidas,  não tenho dúvidas em dizer que o 
Estado só deve guardar informação em formatos inter-operáveis, a menos que 
isso seja tecnicamente impossível (o que poderá ocorrer em nichos muito 
circunscritos). 

Não tenho dúvidas em me opôr às patentes de software. 

Radicalismo na dose certa (seja lá qual ela fôr) não é radicalismo. 

> E isso é o mais paradoxal.  De um lado, vê-se alguns dos acusados de
> "radicalismo", "ideais utópicos" ou pior a fazer trabalho *pragmático=
*
> e bem focalizado em questões que poderão lixar até quem faz softwar=
e
> proprietário nesta terra (caso notório das patentes, para as pequenas
> empresas).
> 
> De outro lado, vê-se alguns dos críticos do "fundamentalismo" e da
> "alienação da realidade" a destacar a crítica ideológica vaga
> e a discutir a nobreza/pragmatismo dos ideais... enquanto roda após rod=
a
> da caravana legislativa nos vai passando a todos por cima. 
> 
> E também esta mensagem foi, nesse contexto, perder *ainda* mais tempo.
> Forget it.

Como dás a entender é inegável que as opções políticas (no sentido geral) de
cada um têm, infelizmente, uma certa influência na forma como se observa
estes assuntos. Contudo acho que há bem mais património em comum do que
motivos para discordância. Cabe a cada um controlar os seus impulsos
ideológicos e não deixar que eles minem a que há de comum. 

Tens toda a razão em dizer que estas discussões acabam por ser um perda de
energia. 

> 
> Mais do que "ganhar" quaisquer discussões, importa a motivação inic=
ial
> para esta mensagem: custa ver como somos poucos, somos pequenos, tempos
> pouco tempo, e mesmo assim aproveitamos todas as oportunidades que temos
> para nos demolirmos mutuamente, poupando trabalho a quem ao lado,
> perante a nossa incapacidade de reacção, está a preparar o resto da
> nossa demolição como mais uma tarefa de marketing das 9 às 5.

Estou em total acordo. Os departamentos de marketing não têm que discutir
ideias, basta seguirem as ordens que vêm de cima. 

Carlos

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Carlos Baquero                       
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