[ANSOL-geral]Sobre palavras "tabu" e anti-corpos e a caravana a pisar-nos

J M Cerqueira Esteves jmce arroba artenumerica.com
Wed Dec 4 15:56:02 2002


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On Wed, 2002-12-04 at 13:32, Carlos Baquero Moreno wrote:
> A licen=E7a GPL =E9 uma obra genial, mas a atitude da FSF tem pecado muit=
as vezes por
> excessos de radicalismo que acabam por criar anti-corpos que n=E3o fazem =
bem
> nenhum =E0 difus=E3o do pr=F3prio SL. =20

Sem pretender que a FSF seja perfeita (como se alguma organiza=E7=E3o o
fosse) e esteja sempre "certa" em tudo e que se deva imitar cegamente
tudo o que foi feito antes por ela,  acho que este "argumento do
radicalismo" =E9 apresentado demasiadas vezes como auto-evidente
ou metendo demasiadas quest=F5es no mesmo saco.  N=E3o =E9 muito boa ideia
tentar "curar" supostas ou reais ingenuidades com outras ingenuidades
potencialmente maiores.  Esse =E9 o territ=F3rio dos (maus) jornalistas;
pena ser=E1 se for o nosso.

Podes de uma vez por todas exemplificar para os mais ignorantes alguns
desses pecados da FSF e os anti-corpos correspondentes que foram
criados?  Quais foram os preju=EDzos =E0 difus=E3o do software livre por pa=
rte
desses anti-corpos? Incluis entre os anti-corpos aqueles que de qualquer
forma seriam gerados entre quem de todo n=E3o toleraria licen=E7as livres /
abertas / qualquer coisa parecida?  A partir de que fronteira podemos=20
gerar anti-corpos? Nenhuma?  N=E3o ficando ningu=E9m para "incomodar", rest=
a
alguma coisa para promover?  O que se deve promover afinal?
E devemos estar sempre na perspectiva de "desculpem qualquer coizinha"?
Quem precisamos apaziguar? Jornalistas?

J=E1 agora, ser=E1 assim que opera o marketing de qualquer empresa
supostamente mais pragm=E1tica, business-minded e n=E3o-ideologizada?
Ou o marketing empresarial n=E3o poderia seria visto, =E0 mesma lupa,
como discurso ainda bem mais "fundamentalista/radical"?
Boa parte dos membros desta lista deve ter falado com bastantes mais
vendedores do que eu (designando-os por "vendedores" para simplificar,
qualquer que seja o cargo sonante indicado no cart=E3o de visita),
para conhecer melhor do que eu a natureza do discurso do marketing=20
sobre um... Produto.

Em tudo isto interessa ter em conta que na pr=E1tica, no que nos interessa
a todos (desde que haja um m=EDnimo de interesse por software livre), o
problema =E9 n=E3o apenas T=C9CNICO mas primariamente LEGAL e n=E3o um de
ideologias vagas/ut=F3picas de liberdade ou de grandes sistemas pol=EDticos=
,
ao contr=E1rio do que a palavra "liberdade" parece sugerir
sistematicamente a quem talvez parece ter criado alguns anti-corpos
contra ela (talvez por nunca lhe ter sentido a falta e por ter crescido
a consider=E1-la "palavr=E3o" exclusivo de uma ou outra for=E7a pol=EDtica =
com
que menos simpatize e que, nas modas actuais, goste de se apropriar
dela).
=20
Independentemente de qualquer ideologia motivadora, o contexto das
licen=E7as =E9 no fim do dia um contexto legal e um contexto legal tem por
natureza enquadramentos "radicais", por exemplo no sentido de que quando
vamos para tribunal n=E3o basta o apelo ao "bom senso" ou "senso comum" e
a diferen=E7a entre um resultado e outro est=E1 nas "fundamentalistas"
letras miudinhas.  Talvez concordes que a FSF, no seu espiolhar
"radical" das licen=E7as, tem sistematicamente encontrado problemas
=E0 espera de acontecerem.  Alguns, depois de ridicularizados como
devaneios de picuinhice, reveleram-se mais tarde bem relevantes.

Na promo=E7=E3o das mudan=E7as (nomeadamente para software livre), reconhec=
er
o valor diferenciado dos pequenos passos e dos diversos tom de cinzento
=E9 importante para n=E3o perder a realidade de vista e conseguir no fim
fazer alguma diferen=E7a.  Isso foi j=E1 recomendado =E0 ANSOL diversas vez=
es
e suspeito que poucos discordam disso.

Mas no terreno legal os tons de cinzento s=E3o muito mais escassos.
Frequentemente a situa=E7=E3o =E9 mesmo a preto e branco, e quando se est=
=E1 =E0
rasca para passar de um para o outro lado o que se quer, ent=E3o sim
sem "anti-corpos" (nada como sentir na pele o significado de
"liberdade"), =E9 o advogado mais "radical" que possa haver.

Enfim, espero para bem de todos que quem tem anti-corpos de forma
demasiado f=E1cil n=E3o tenha de perceber um dia as consequ=EAncias de
uma atitude "laissez-faire" e do desprezo pelo pormenor.
=C9 que enquanto andamos futilmente a discutir se somos mais ou menos
fundamentalistas, h=E1 escrit=F3rios recheados de advogados e especialistas
de marketing bem pagos para de uma forma ou de outra conseguir dos
pol=EDticos que supostamente nos representam o que pode haver de mais
fundamentalista sem aspas: transformar a defesa dos interesses e
"liberdades" que defendem em LEIS, doa a quem doer.

Uma estrita "delega=E7=E3o portuguesa da FSF" incomodaria?  Pode ser que
incomodasse algu=E9m, mas tendo em conta o contexto actual, tomara eu que
exista PELO MENOS algo como isso.  Com todos os defeitos que se lhe
possa apontar, a FSF "gets things going".  Se n=F3s passarmos o tempo
a discutir que n=E3o-podemos-ser-s=F3-carne-nem-podemos-ser-s=F3-peixe
porque ui! isso "pareceria radical", no fim n=E3o seremos nem carne nem
peixe nem coisa nenhuma.  Apenas motivo justificado de gozo para os tais
advogados e marketeers no intervalo de caf=E9 de qualquer curso
de "marketing de guerrilha"; pelo menos t=EAm uma m=E9trica muito bem
definida para medir o sucesso, nem que isso implique os meios sairem
no Di=E1rio da Rep=FAblica. Est=E1 no banco ao fim do m=EAs.
Radical enough for you?

Comparar e fazer barulho sobre grandes-vis=F5es de ideais-para-a-sociedade
(s=F3-software-livre-permitido, software-livre-misturado-com-propriet=E1rio=
,
tudo-vale, etc.) pouca diferen=E7a vai fazer.  N=E3o vejo qualquer "risco"
de algu=E9m conseguir decretar a obrigatoriedade do software livre=20
para todos, por isso espanto-me como tanta gente perde tempo a tentar
combater isso como um "risco totalit=E1rio de sinal oposto" que pudesse
acontecer a qualquer prazo vis=EDvel.  Ao mesmo tempo vejo sem aspas
e IMINENTES alguns riscos para o software livre por parte de alguma
legisla=E7=E3o que se aproxima, e que a maior parte dos mesmos cr=EDticos
parece (ao contr=E1rio do outro "risco" ut=F3pico) ignorar alegremente.

E isso =E9 o mais paradoxal.  De um lado, v=EA-se alguns dos acusados de
"radicalismo", "ideais ut=F3picos" ou pior a fazer trabalho *pragm=E1tico*
e bem focalizado em quest=F5es que poder=E3o lixar at=E9 quem faz software
propriet=E1rio nesta terra (caso not=F3rio das patentes, para as pequenas
empresas).

De outro lado, v=EA-se alguns dos cr=EDticos do "fundamentalismo" e da
"aliena=E7=E3o da realidade" a destacar a cr=EDtica ideol=F3gica vaga
e a discutir a nobreza/pragmatismo dos ideais... enquanto roda ap=F3s roda
da caravana legislativa nos vai passando a todos por cima.=20

E tamb=E9m esta mensagem foi, nesse contexto, perder *ainda* mais tempo.
Forget it.

Mais do que "ganhar" quaisquer discuss=F5es, importa a motiva=E7=E3o inicia=
l
para esta mensagem: custa ver como somos poucos, somos pequenos, tempos
pouco tempo, e mesmo assim aproveitamos todas as oportunidades que temos
para nos demolirmos mutuamente, poupando trabalho a quem ao lado,
perante a nossa incapacidade de reac=E7=E3o, est=E1 a preparar o resto da
nossa demoli=E7=E3o como mais uma tarefa de marketing das 9 =E0s 5.

Melhor do que as grandes teoriza=E7=F5es sobre se queremos ser mais ou meno=
s
FSF-like "e-ui-se-formos-eu-estou-j=E1-de-fora-que-n=E3o-quero-confus=F5es"=
,
discuss=F5es que andar=E3o sempre em loop, =E9 arrega=E7ar as mangas e trab=
alhar
NUM PROBLEMA CONCRETO DE CADA VEZ, seja para concretizar tarefas, seja
para dar sugest=F5es, ou seja mesmo s=F3 para criticar. =20

Para bem de todos que se interessam por software livre, nem que seja s=F3
um bocado, e qualquer que seja a simpatia pela FSF.

Por favor.=20

Porque os problemas concretos n=E3o v=E3o esperar pelas nossas
profund=EDssimas conclus=F5es.

Quanto ao resto, sorry mas... bah.

                            JM



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