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<h1>O “Público” contra Assange</h1>
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<p> Na disputa em torno do fundador da Wikileaks está em causa
o futuro da liberdade de informação. Os chefes do Público,
infelizmente, estão do lado errado. </p>
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<div class="section-date-author">opiniao | 29 Agosto, 2012 -
00:45 | Por <a
href="http://www.esquerda.net/autor/lu%C3%ADs-leiria">Luís
Leiria</a> </div>
<div id="body_opina"><span class="print-link"></span>
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<p> O <em>Público</em> dedicou o editorial da sua edição de
domingo a atacar virulentamente Julian Assange. Já pelo
título, o editorialista não identificado mostra ao que vem:
“Ascensão e queda de um pirata informático”. O australiano
não é jornalista, não é editor, não é sequer um <em>whistleblower</em>,
uma pessoa que torna pública informação que se pretendia
ocultar. Não, é um pirata, alguém que rouba, que acede
ilegalmente a sistemas informáticos. Alguém que depois de
ter sido visto como “um herói do século <em>hi-tech</em>,
inteligente, revolucionário e livre”, não passa afinal de
“um triste troféu ideológico”, rodeado pelos que se juntam à
sua causa e que padecem de “anti-americanismo rudimentar e
acrítico”.</p>
<p> Seria risível se não fosse triste. A imprensa sempre viveu
de fontes; sem elas não se faz jornalismo, apenas uma
arremedo de diários oficiais. Os exemplos mais célebres de
jornalismo investigativo dos Estados Unidos foram feitos
porque existiam pessoas como Assange. O caso Watergate foi
um magnífico trabalho de dois jornalistas do <em>Washington</em><em>Post</em>
que ganharam merecida fama, mas que nada teriam escrito se
não tivesse existido o “Garganta Funda” (que só 30 anos mais
tarde se soube que era o ex-diretor do FBI Mark Felt).</p>
<p> Outro exemplo célebre é o da revelação dos Documentos do
Pentágono, que rendeu reportagens a todos os principais
jornais americanos, em 1971, mostrando que as sucessivas
administrações americanas envolvidas na Guerra do Vietname
mandaram para a morte milhares de soldados americanos
ocultando ao público a verdadeira situação no terreno. Essas
reportagens só foram possíveis devido à divulgação pública
de milhares de páginas fotocopiadas por um ex-militar e
analista norte-americano, que teve acesso a esses documentos
por trabalhar na RAND Corporation, empresa que prestava
serviços ao Pentágono. Chama-se Daniel Ellsberg e é um dos
tais “anti-americanos rudimentares” que apoia Assange.</p>
<p> Esperava-se do <em>Público</em>, se não o apoio ao
fundador do Wikileaks, pelo menos uma palavra de valorização
das revelações feitas por aquela organização. Revelações que
trouxeram à luz muito do que se sabe hoje da guerra do
Afeganistão e do Iraque, da política dos EUA em todo o
mundo. Goste-se ou não desta política, as informações foram
relevantes e assim o consideraram até jornais como o <em>New
York Times</em> e, aliás, também o <em>Público</em>. Mas
o editorialista esquece tudo isto e segue o caminho oposto.
Sobre as revelações acerca da guerra do Afeganistão
desenterra apenas a velha acusação de que a Wikileaks
denunciou nomes de informadores afegãos, “ajudando os
taliban a construírem uma nova lista de pessoas a abater”.
Ora todos, até o <em>Público</em>, sabem que um porta-voz
do Pentágono admitiu ao <em>Washington</em><em>Post</em>
que nenhum afegão sofreu nada que pudesse ser imputado à
exposição nos documentos da Wikileaks.</p>
<p> Todo este quadro negativo preparava a conclusão do
editorial: por “cegueira ou avidez”, tem sido o próprio
Assange “a queimar a aura que boa parte do mundo lhe
concedeu”. Para o editorialista Assange não é perseguido por
promover a liberdade de informação, a mesma que o <em>Público</em>deveria
defender acima de tudo. Para ele, sequer faz sentido que
Assange evoque o estatuto de refugiado político, porque “é
acusado de crimes sexuais”.</p>
<p> Será que o editorialista desconhece que houve dezenas de
figuras públicas dos EUA a pedir a prisão e até o
assassinato de Assange? Ou será que se trata apenas de
delírio de anti-americanos? Todos ainda se recordam que Sara
Palin pediu que os EUA perseguissem Assange com o mesmo
empenho que o fazem aos líderes da Al Qaeda. Deve estar
preocupada com “acusações sexuais” que sequer foram ainda
formalizadas pelo Ministério Público sueco.</p>
<p> O Equador achou, corretamente, que os verdadeiros motivos
do cerco a Assange são políticos e têm a ver com a sua
atividade em prol da liberdade de imprensa e deu-lhe asilo
político. O <em>Público</em>é contra e invoca a convenção
da ONU sobre refugiados. Juristas com mais peso que o
editorialista, como Baltasar Garzón, Michael Ratner, e
tantos outros, defendem não só o estatuto de refugiado, como
que as autoridades de Londres deixem Assange viajar para o
Equador.</p>
<p> O que está em jogo não é pouco, e nada tem a ver com
“anti-americanismo”. Se o australiano terminar manietado,
vestido com um fato-macaco cor de laranja nalguma Guantánamo
do planeta para o resto da vida, quem mais terá coragem de
revelar informações que incomodem Washington? Do resultado
desta disputa, por isso, depende muito o futuro da liberdade
de imprensa. É triste ver que os chefes do <em>Público</em>,
infelizmente, estão do lado errado.</p>
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<h3>Sobre o/a autor/a
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