[ANSOL-geral] Spotify - Um novo mundo se abre para a musica!

Marcos Marado mindboosternoori gmail.com
Sexta-Feira, 27 de Dezembro de 2013 - 16:48:55 WET


Correndo o risco de ser bastante off-topic para esta lista (pelo que
já foi dito por
alguém anteriormente), algumas notas sobre o Spotify:

2013/12/21 Ricardo Pinho <ricardodepinho  gmail.com>:
[...]
> Em terceiro lugar, é preciso esclarecer uma duvida basica em relação ao
> modelo de negócio da musica. O consumidor quer ser proprietário (ter) da
> musica ou quer simplesmente ouvir a musica?

Há para todos os gostos, e são "modelos de negócio" distintos para
"necessidades" distintas. E, ainda que se diga que uma poderia colmatar
a outra (quem *tem* a música, na teoria poderia sempre poder ouvi-la), o
mercado tem provado que não é bem assim (o sucesso dos "music
lockers" vem a comprová-lo): eu tenho muitos albums mas não ando com
eles "atrás de mim": o uso de um "music locker" permite-me aceder à minha
música, em formato digital, à qual neste momento não tenho acesso físico...
Não quer dizer que um dos "mercados" ou "use cases" seja mais importante
que o outro. Eu, pessoalmente, gosto de ambos (ou até dos três): continuo
um coleccionador ávido de música (em formato físico), e no entanto utilizo
um serviço de music locker para poder aceder ubiquamente à minha
colecção (na teoria, na prática ainda estou bastante longe disso, mas isso
é outra conversa...), e ainda gosto de poder aceder a música para ouvir e
para a qual não tenho o objecto físico associado, através do uso de
serviços de streaming (dás o exemplo do Spotify, eu prefiro exemplos
como o Libre.fm, o FMA, etc...)

> Eu posso responder por mim, só
> quero ouvir! Estou mortinho por me livrar daquelas caixas de cd's que só
> servem para ganhar pó.

Eu fico-te com eles ;-)

> Em quarto lugar, não concordo nada que o mundo da musica continua o mesmo.
> Segundo o que sei:
> O "grande" Steve Jobs, deu o primeiro passo de mudança com o iTunes e os
> iPods, vendendo musica a $0.99!

A mudança vem bem de trás, mesmo antes do Napster (que costuma ser indicado
como o "início desta nova era"), mas sim, o iTunes[1] foi visto como o primeiro
"grande" vendedor de albums às postas -- e na realidade a grande revolução foi
mesmo essa: as pessoas passaram de olhar para "albums" e passaram a olhar
para "faixas".

> Depois vieram os imitadores do costume (amazon, google, sony, ms) mas que
> pouco acrescentaram.

A Amazon dá-te o "compra o físico e levas já com o digital", a Google
trouxe-te o
music locker (antes do iTunes), a Sony é um dos shareholders do Spotify[2] e a
Microsoft... bem, ninguém estava à espera de algo útil deles neste mercado,
certo?

> O segundo passo foi dado pelo Spotify, quebrando a barreira psicológica do
> "só ouves se pagares" e "se tiveres o meu aparelho" (steve).
> De uma forma simples considero o modelo de negocio do Spotify igual a de uma
> rádio, com a unica "grande" diferença, o ouvinte escolhe a musica.

Na realidade, o Spotify não faz absolutamente *nada* de inovador, em relação à
concorrência que já tinha na altura. A "grande vantagem" para eles é terem o
financiamento e apoio das major labels, os mesmos que impedem que a maioria
destes modelos de negócio possam vingar, graças aos preços exorbitantes que
pedem a estes serviços para poderem actuar neste mercado usando os seus
catálogos. Vê, a questão é bem simples: um serviço deste género funciona à
base de escala. As pessoas que usam estes serviços estão interessados em ir
lá, procurar uma banda, e banda estar lá. Mas se formos a ver os números,
apenas cerca de 12% da música publicada (nem vamos falar em backcatalog!)
é que não pertence às major labels. Ou, por outras palavras, se queres fazer um
serviço do género e queres cumprir o requisito dos potenciais utilizadores de
"eu quero procurar uma banda e ela estar lá", então ou fazes a coisa ao arrepio
da lei (como o last.fm fez durante os seus primeiros anos!), ou és obrigado a
entrar em acordo com as major labels, coisa que sai muito muito cara -- tão
cara que não é sustentável. Assim, tens serviços como o Last.fm que tentaram
"legalizar-se" e começaram a restringir as suas funcionalidades, encarecer o
seu produto e mesmo assim fechar em país atrás de país, porque o volume de
negócio não consegue acompanhar o preço das taxas para aquele mercado, ou
então os serviços que não têm como fazer esses acordos e tentam modelos de
negócio alternativos: exemplos como o bandcamp, que tem tido êxito dentro do
mercado que criou, mas que realmente não compete no mesmo âmbito que um
spotify (será que há alguma banda de major label a estar lá?). E depois
"aparece o Spotify", que, aparentemente, oferece o "melhor dos dois mundos"
para os utilizadores, porque tem lá os modelos de negócio "inovadores" e o
catálogo das majors... tudo porque, a esses em particular, as majors deixam
(pudera, são accionistas). Poder-se-ia dizer que o Spotify é uma "coisa nova e
boa no mercado", mas, da forma como eu vejo a questão, o spotify está na
realidade a destruir o valor do mercado, visto que eles têm, virtualmente, o
monopólio do catálogo que os deixa actuar no dito mercado.

E para os artistas? Bem, ainda aqui à tempos que estive a falar com um sobre
os prós e contras de "estar no spotify"... e uma coisa é certa: desengane-se
quem pensa que o spotify pode servir como veículo de promoção às pequenas
bandas, porque toda a mecânica do serviço está no sentido inverso: no máximo,
as indies que lá estão só estão, no fundo, a servir de veículo de promoção ao
catálogo das majors.

> E nada
> impede que apareçam (e vao aparecer) outras "radios" com outros principios,
> como usar software livre! ;-)

Já tens: o Libre.fm nasceu em 2009, o FMA também, o banshee tem um plugin
de suporte para o archive.org, ... já há bastante actividade nessa área :-) O
"problema", no fundo, está no catálogo...

> Vão ver que os imitadores começam logo a mexer-se...

Não deixa de ser engraçado estares a dizer isso em relação a um serviço que
foi lançado já há cinco anos, e que quando apareceu foi considerado como
"just another last.fm/imeem" (imeem esse que entretanto foi comprado e
"incorporado" do myspace) :-)


Para finalizar: parece-me que as críticas que foram feitas ao Spotify nos
comentários anteriores, se podem facilmente resumir a dois items: (1) implica
o uso de software proprietário (coisa que não tenho a certeza que ainda seja
verdade, visto eles terem a opção SaaS na web, que não sei se já é final ou
não, nem promenores sobre o seu funcionamento...), e (2) a música tem DRM
(como não poderia deixar de ser, num serviço das majors...).

E, tendo em conta o âmbito desta lista, ambos os items me parecem
realmente relevantes e importantes a apontar como sendo dois factores
determinantes contra o uso de um tal serviço.


Bom fim de ano,
-- 
Marcos Marado



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