[ANSOL-geral] O “Público” contra Assange
Carlos Patrão
cpatrao moredata.pt
Quinta-Feira, 30 de Agosto de 2012 - 13:16:11 WEST
> O “Público” contra Assange
>
> Na disputa em torno do fundador da Wikileaks está em causa o futuro da
> liberdade de informação. Os chefes do Público, infelizmente, estão do
> lado errado.
>
> opiniao | 29 Agosto, 2012 - 00:45 | Por Luís Leiria
> <http://www.esquerda.net/autor/lu%C3%ADs-leiria>
>
> O /Público/ dedicou o editorial da sua edição de domingo a atacar
> virulentamente Julian Assange. Já pelo título, o editorialista não
> identificado mostra ao que vem: “Ascensão e queda de um pirata
> informático”. O australiano não é jornalista, não é editor, não é
> sequer um /whistleblower/, uma pessoa que torna pública informação que
> se pretendia ocultar. Não, é um pirata, alguém que rouba, que acede
> ilegalmente a sistemas informáticos. Alguém que depois de ter sido
> visto como “um herói do século /hi-tech/, inteligente, revolucionário
> e livre”, não passa afinal de “um triste troféu ideológico”, rodeado
> pelos que se juntam à sua causa e que padecem de “anti-americanismo
> rudimentar e acrítico”.
>
> Seria risível se não fosse triste. A imprensa sempre viveu de fontes;
> sem elas não se faz jornalismo, apenas uma arremedo de diários
> oficiais. Os exemplos mais célebres de jornalismo investigativo dos
> Estados Unidos foram feitos porque existiam pessoas como Assange. O
> caso Watergate foi um magnífico trabalho de dois jornalistas do
> /Washington//Post/ que ganharam merecida fama, mas que nada teriam
> escrito se não tivesse existido o “Garganta Funda” (que só 30 anos
> mais tarde se soube que era o ex-diretor do FBI Mark Felt).
>
> Outro exemplo célebre é o da revelação dos Documentos do Pentágono,
> que rendeu reportagens a todos os principais jornais americanos, em
> 1971, mostrando que as sucessivas administrações americanas envolvidas
> na Guerra do Vietname mandaram para a morte milhares de soldados
> americanos ocultando ao público a verdadeira situação no terreno.
> Essas reportagens só foram possíveis devido à divulgação pública de
> milhares de páginas fotocopiadas por um ex-militar e analista
> norte-americano, que teve acesso a esses documentos por trabalhar na
> RAND Corporation, empresa que prestava serviços ao Pentágono. Chama-se
> Daniel Ellsberg e é um dos tais “anti-americanos rudimentares” que
> apoia Assange.
>
> Esperava-se do /Público/, se não o apoio ao fundador do Wikileaks,
> pelo menos uma palavra de valorização das revelações feitas por aquela
> organização. Revelações que trouxeram à luz muito do que se sabe hoje
> da guerra do Afeganistão e do Iraque, da política dos EUA em todo o
> mundo. Goste-se ou não desta política, as informações foram relevantes
> e assim o consideraram até jornais como o /New York Times/ e, aliás,
> também o /Público/. Mas o editorialista esquece tudo isto e segue o
> caminho oposto. Sobre as revelações acerca da guerra do Afeganistão
> desenterra apenas a velha acusação de que a Wikileaks denunciou nomes
> de informadores afegãos, “ajudando os taliban a construírem uma nova
> lista de pessoas a abater”. Ora todos, até o /Público/, sabem que um
> porta-voz do Pentágono admitiu ao /Washington//Post/ que nenhum afegão
> sofreu nada que pudesse ser imputado à exposição nos documentos da
> Wikileaks.
>
> Todo este quadro negativo preparava a conclusão do editorial: por
> “cegueira ou avidez”, tem sido o próprio Assange “a queimar a aura que
> boa parte do mundo lhe concedeu”. Para o editorialista Assange não é
> perseguido por promover a liberdade de informação, a mesma que o
> /Público/deveria defender acima de tudo. Para ele, sequer faz sentido
> que Assange evoque o estatuto de refugiado político, porque “é acusado
> de crimes sexuais”.
>
> Será que o editorialista desconhece que houve dezenas de figuras
> públicas dos EUA a pedir a prisão e até o assassinato de Assange? Ou
> será que se trata apenas de delírio de anti-americanos? Todos ainda se
> recordam que Sara Palin pediu que os EUA perseguissem Assange com o
> mesmo empenho que o fazem aos líderes da Al Qaeda. Deve estar
> preocupada com “acusações sexuais” que sequer foram ainda formalizadas
> pelo Ministério Público sueco.
>
> O Equador achou, corretamente, que os verdadeiros motivos do cerco a
> Assange são políticos e têm a ver com a sua atividade em prol da
> liberdade de imprensa e deu-lhe asilo político. O /Público/é contra e
> invoca a convenção da ONU sobre refugiados. Juristas com mais peso que
> o editorialista, como Baltasar Garzón, Michael Ratner, e tantos
> outros, defendem não só o estatuto de refugiado, como que as
> autoridades de Londres deixem Assange viajar para o Equador.
>
> O que está em jogo não é pouco, e nada tem a ver com
> “anti-americanismo”. Se o australiano terminar manietado, vestido com
> um fato-macaco cor de laranja nalguma Guantánamo do planeta para o
> resto da vida, quem mais terá coragem de revelar informações que
> incomodem Washington? Do resultado desta disputa, por isso, depende
> muito o futuro da liberdade de imprensa. É triste ver que os chefes do
> /Público/, infelizmente, estão do lado errado.
>
>
> Sobre o/a autor/a
>
> Luís Leiria <http://www.esquerda.net/autor/lu%C3%ADs-leiria>
> Luís Leiria <http://www.esquerda.net/autor/lu%C3%ADs-leiria>
> Jornalista do Esquerda.net
>
http://www.esquerda.net/opiniao/o-%E2%80%9Cp%C3%BAblico%E2%80%9D-contra-assange/24406
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