[ANSOL-geral] Magalhães na Venezuela é diferente do Português

J M Cerqueira Esteves jmce artenumerica.com
Sexta-Feira, 26 de Setembro de 2008 - 15:06:58 WEST


Pedro Patricio wrote:
> topo da pirâmide toma as suas decisões baseadas em (não sei o que 
> escrever, porque não sei em que se baseiam).

Até já ouvi de alguns topos de pirâmide, neste século e no passado, 
argumentação do tipo "mas é o software que eles têm em casa, não vamos 
fazer tudo diferente".  Num dos casos (a um professor de física, FCUL) 
perguntei se então também estariam a pensar abandonar o ensino de 
mecânica quântica.

Noutros casos, a argumentação, nem sempre confessada, é a de ser o 
software que o docente conhece.  Especialmente compreensível num ensino 
universitário em que tantas vezes até as disciplinas parecem escolhidas 
para ajuste ao corpo docente, em vez do oposto (a ponto de apetecer 
sugerir nomes de docentes para as ditas).

Exemplificando com disciplinas experimentais, ouvi muitos lamentos sobre 
cópia de relatórios entre alunos, mas calculo que para os professores a 
monocultura de ferramentas e de raciocínios (ou falta deles) é também um 
descanso em disciplinas que tantas vezes os próprios consideram menores 
(conduzindo a 'actividades' com instruções como 'rode o botão M e anote 
o valor lido na coluna B' em vez de menos e melhores trabalhos a exigir 
que o estudante pense).

Seria interessanta ainda saber até que ponto a escolha será (como 
aconteceu noutros sítios) baseada em 'favores' paralelos das empresas de 
software, que sabem bem o valor da habituação introduzida por via 
curricular.

Mas também no ensino superior o problema vai mais longe que as licenças.
Também aí se passou:
- para o treino no produto específico em vez de preparação para a 
escolha e uso autónomo, quando não mesmo (papão!) programação;
- para o uso precoce de ferramentas que poderão ser úteis depois da 
aprendizagem básica mas frequentemente prejudiciais quando nelas se 
pendura essa aprendizagem: sistemas como Mathematica, Maple, Matlab 
usados oficialmente antes do fim de uma licenciatura (sim, FIM), em 
fases onde se presume servirem para curto-circuitar passos vistos como 
'fastidiosos' mas que (como outros mais cedo prejudicados pelas 
calculadoras gráficas) são importantes para obter intuição --- a 
intuição que mais tarde permite compreensão e espírito crítico ao usar 
os ditos sistemas.

Do infantário à licenciatura, a introdução precoce de certos produtos 
(polidos, fechados, 'user-friendly') passa por valiosa como preparação 
para o uso de 'novas tecnologias', quando na prática parece muitas vezes 
ter o efeito oposto

Sendo então a opção curricular pela ferramenta sofisticada da empresa X, 
capaz de incluir a feature-papinha Y que agradou ao catedrático C entre 
duas conversas de futebol, o cenário complica-se ainda mais para o 
software livre.

Cumprimentos

                 J Esteves

-- 
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