Re: [ANSOL-geral] [Fwd: [INFO] Linha directa - está tudo doido?]

J M Cerqueira Esteves jmce artenumerica.com
Sexta-Feira, 29 de Junho de 2007 - 10:50:46 WEST


Manuel Silva wrote:
> Diria que "quem não deve, não teme".

Diria... até, espero, acabar por perceber o que de mais feio se vai
passando no mundo, na Europa, no país, e na lei que lhe preparam, e na
preparação, incultura e prepotência de algumas "forças de segurança" e
mesmo do que parece ser falta de formação em Direito com "D" grande de
parte dos juízes.

Esse é um dos problemas de percepção mais graves que leva tanta gente
bem intencioada a achar aquilo positivo e a papaguear como nos seus
parágrafos anteriores as considerações sobre pedofilia e chats e "forças
de segurança do país".

Até o "maior número de elementos possíveis" traduz uma versão de medir a
informação para segurança ao kg, cujos problemas as "forças de
segurança" acabarão por perceber se forem honestas e cuidadosas.

Para que conste claramente, "imoralidade, irresponsabilidade,
perversidade, obscenidade, descuido, descaramento,
bestialidade, ignorância, prepotência, provincianismo, falta de
vergonha, tentações ditatoriais", e mais, não diziam respeito a
pormenores como logotipos da MS, mas sim à mera instituição de um
serviço destes.

É que o seu problema mais grave, e o dos seus filhos se os tiver,
não é aquilo que aquele sítio diz tentar prevenir.  Não são os
(felizmente raros) criminosos pedófilos.  Não são os que incitam a ódios
(ou que quem acha conveniente acusa de incitar).  O potencial pior
problema dos cidadãos, graúdos ou pequeninos, são os orgãos do seu
próprio estado, as leis que lhes definem os limites.
E o problema daquele sítio de "internet segura" é o que ele representa
sobre a Europa onde vamos viver.

A segurança do cidadão face ao estado é sistematicamente desprezada, e
no entanto é para isso que serve uma constituição.  Valha-nos a nossa,
se para tanto chegar.


Se for preciso farei um desenho noutro dia, que hoje não há tempo, mas
posso deixar-lhe uns traços:  aqueles que em nome de "proteger a memória
para prevenir a repetição da história" defendem tesouradas
precaucionárias na liberdade de expressão são os que mais contribuem,
boa parte deles em plena consciência e sem escrúpulos, para a evolução
da Europa para um estado policial mais perigoso e eficaz em repressão do
que qualquer outro momento da história europeia.

Enquanto a Alemanha proíbe suásticas, institui uma versão 2.0 da STASI.
 Enquanto o UK se preocupa com o uniforme nazi levado pelo príncipe ao
baile de máscaras, institui a vigilância generalizada.  Preocupamo-nos
com símbolos e aparências e "franjas" que não nos governam, e com
recordações históricas difusas a tender para parque temático,
enquanto nos descuidamos com a memória da substância e com a substância
do que está a ser posto em lei e com a prática de quem nos governa.

Porque afinal quem não deve não teme.  Aposto que também se escrevia
disso enquanto ascendiam ao poder as piores ditaduras europeias do
século XX.

Internet segura para quem?



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