Re: [ANSOL-geral]Re: Uma visão interessante... ;p

rsr@portoware.com rsr arroba portoware.com
Tue Oct 28 21:08:02 2003


Eu tenho pouco jeito para explicar cálculo matricial a quem aparentemente
não sabe a tabuada, mas vou tentar ser o mais concreto e preciso possível.

Mas comecemos pela "Anarquia" que dizes ser "onde não há (nem necessita de
haver) uma autoridade".
Anarquia é, essencialmente, a completa ausência de hierarquia, em qualquer
estado de desenvolvimento, não um movimento político ou social ou de
qualquer outra coisa, e portanto, não vejo que relação possa haver com um,
esse sim, movimento cientifico, social e filosófico, o movimento do e pelo
Software Livre.
A ausência de autoridade entra muito bem no ouvido, no entanto, há várias
formas e patamares de desenvolvimento da hierarquia. O mais básico, mais
primitivo, é o do tão conhecido "Capitalismo" (seja ele selvagem ou
civilizado...), porque é exactamente nesse principio que ele se baseia, a
autoridade. E que facilmente, ou inevitavelmente, leva a outros fins
(racistas, xenófobos, imperialistas, fascistas, ...) dependo da ou das
entidades que detém essa autoridade.

Quanto ao Comunismo, criou-se a ideia de que era exactamente o oposto do
Capitalismo, (também pelos tais JN, DN, Públicos, e outros que tais...)
mas não, nem sequer são "grandezas" correlacionais, enquanto que o
Comunismo é uma forma de organização da sociedade, o Capitalismo, e no seu
estado mais avançado, o Imperialismo, é uma forma de controlo da
sociedade.
O Comunismo é muito mais do que aquilo que podes ler no dicionário, é a
concepção materialista e dialéctica do Mundo, um instrumento científico de
análise da realidade e guia para a acção que constantemente se enriquece e
se renova dando resposta aos novos fenómenos e processos culturais,
sociais, científicos, tecnológicos, ..., . Em ligação com a prática e com
o incessante progresso dos conhecimentos, esta concepção do mundo é
necessariamente criadora e, por isso, contrária à dogmatização assim como
à revisão oportunista dos seus princípios e conceitos fundamentais.
Portanto, o movimento do Software Livre, a que muito me orgulho de
pertencer enquanto programador de software, encaixa que nem uma luva numa
base Comunista. Será que não é exactamente isto que o Software Livre
procura mudar? Para que é que serve "a liberdade de executar o software,
para qualquer uso" , "a liberdade de estudar o funcionamento de um
programa e de adaptá-lo às suas necessidades", "a liberdade de
redistribuir cópias" e "a liberdade de melhorar o programa e de tornar as
modificações públicas de modo que a comunidade inteira beneficie da
melhoria"?
Não será para em ligação com a prática de estudar, modificar, e,
porventura, melhorar o funcionamento do programa e com um constante
progresso dos conhecimentos informáticos, termos a possibilidade de
evoluir, de ir sempre mais além.
Quando falo das semelhanças entre os dois "movimentos", não me estou a
referir a conceitos e aplicações que nada têm nada a ver com a Informática
Livre enquanto conhecimento, como o Centralismo Democrático ou a Ditadura
do Proletariado (e se calhar são estes fantasmas que assustam muita
gente...)

Estas são apenas algumas das justificações práticas e teóricas, que me
lembro neste momento. Quer o Comunismo quer a Informática Livre são muito
mais do que estas ideias, e existem muitos mais pontos em comum
resultantes da conjugação dos dois "movimentos".
Não é só o software e a informática que precisa de evoluir, também todas
as outras áreas do conhecimento prático e teórico humano, sob o risco de
um não-desenvolvimento e até de um retrocesso. A nossa sociedade está,
essencialmente, atrofiada pelos fantasmas soviéticos, chineses e cubanos.
A Racionalidade acima de tudo.

Cumprimentos,
Rui Rodrigues