[ANSOL-geral]Software proprietário e organismos públicos
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thecrown arroba softhome.net
Fri, 25 Jan 2002 15:56:16 GMT
Caros amigos,
Antes do mais gostaria de apresentar-me. O meu nome é Ricardo Martins
e tenho 20 anos. Estudo Ciência de Computadores na Faculdade de
Ciências do Porto, uso o sistema operativo GNU/Linux desde 1997 (antes
usava o NetBSD 1.2.1) e esporádicamente o GNU/Hurd (desde 2001).
Presentemente, e em conjunto com um amigo alemao estou a desenvolver
um backend para o SANE (GNU/Linux) (com as respectivas "drivers") dos
scanners HP 3300c, HP 3400c, HP 4300c e Agfa Touch.
Sou um crente e assíduo frequentador da Igreja do Santo EMACS :)
Devo confessar que só tomei conhecimento da ANSOL por intermédio do
site da FSF Europe, e há relativamente pouco tempo.
Escrevo este email para relatar um facto que há muito me incomoda: A
proliferação de software e formatos proprietários nos organismos
públicos.
Como o meu pai é Secretário Judicial, (gere os fundos atribuídos a
cada tribunal, as infra-estruturas, etc...) conheço razoávelmente as
estruturas informáticas utilizadas pelos funcionários no seu trabalho
diário.
Há relativamente pouco tempo o Estado Português, através da
comunicação social, afirmou que os tribunais Portugueses
encontravam-se totalmente informatizados e ligados por uma rede (a
notícia foi posteriormente rebatida pelos funcionários, mas isso é
outra história). Ora o que é realmente constrangedor é o facto de
*todo* o software utilizado ser proprietário:
- o sistema operativo utilizado em cada computador é o Windows da
Microsoft (nas suas variadas encarnações);
- as ferramentas de edição de texto, folhas de cálculo, base de dados
são as que vêm com o Office da Microsoft (também nas suas variadas
encarnações);
- as redes (internas e externas) foram implementadas sobre o Windows
NT;
- o software para leitura/envio de correio electrónico é o Outlook da
Microsoft (um dia o meu pai tinha mais de 80 mensagens de email com os
mais variados "vírus" de email que por aí andam, todas enviadas por
funcionários de outros tribunais, na maior parte das vezes sem o
desejarem);
- os programas fornecidos pela DGSJ (Direcção Geral de Serviços
Judiciarios), são todos "programados" em Visual Basic (digamos,
eufemisticamente, que não são "muito" portáteis);
- os documentos fornecidos aos funcionários (modelos de documentos,
tabelas de custos, etc...) são todos em formatos propriétarios
(WinWord .doc, Excel .xls, etc...);
Não se pense porém que isto é novidade, porque anteriormente (até
1997) usava-se o Display Write (DW) da IBM, e as aplicações eram
programadas em Clipper (é melhor não comentar...).
O mesmo pode ser visto nas escolas Portuguesas, onde na disciplina de
Introdução à Informática utiliza-se exclusivamente software da
Microsoft.
Apesar da boa fé do Sr. Ministro Mariano Gago, penso que é preciso
tomar medidas imediatas, porque a política actual do Estado Português
só leva a que cada vez mais o software propriétário se "enraize", e torne
o Estado em mais uma das suas vítimas do "abraço amigo".
Ainda não desabafei tudo (ainda bem que encontrei alguém que partilha
das minhas visões), mas acho melhor ir fazendo-o gradualmente.
Despeço-me cordialmente,
Ricardo Martins