[ANSOL-geral]liberdade vs poder - afinal o consenso?
Vasco Figueira
figueira arroba europe.com
Wed, 09 Jan 2002 02:37:37 +0000
Viva,
A frase:
"...faço figura de otário se me virar para alguém e lhe disser que não
aceito que ele licencie algo *dele* como proprietário. O tipo ri-se na
minha cara e com razão..."
O artigo:
http://www.gnu.org/philosophy/freedom-or-power.html
O artigo é provavelmente o único no site da FSF (que me lembre assim de
repente) com o qual eu não concordo totalmente. *Acho* que percebi onde
cada um quer chegar e onde está o ponto de discórdia. Esperemos.
A razão pela qual eu não concordo inteiramente com o artigo é que eles,
NMO, cometem uma falácia no raciocínio, que passo a tentar explicar.
Eu, enquanto programador, tenho a "liberdade" de escolher o modo de
licenciamento do meu software. Essa liberdade torna-se em poder quando
há gente que depende (mais do que eu) dessa decisão. A afirmação
"Freedom is being able to make decisions that affect mainly you. Power
is being able to make decisions that affect others more than you."
(Stallman & Khun) é perfeitamente verdadeira. Mas as nossas decisões
sobre o nosso software só afectam (consideravelmente) outros quando eles
se encontram presos ao nosso software..
Uma qualquer aplicação proprietária para windows que seja lançada
amanhã, que faz o mesmo que trinta outras aplicações semelhantes não me
retira liberdade em nada nem a nenhum utilizador de windows, mas o facto
de o sistema operativo mais usado no mundo ser fechado, isso sim, é uma
enorme restrição a milhões de pessoas no mundo. Aí o artigo faz todo o
sentido.
A questão está, NMO, na dimensão em que as coisas são equacionadas. Para
software essencial uma licença livre é mandatória, não se podendo
aceitar qualquer outra, para software não-essencial, é fortemente
recomendada.
Isto tem a ver com o facto de as empresas grandes que produzem software
do qual dependem milhares de pessoas estarem não ao serviço do estado e
consequentemente dos direitos dos cidadãos, mas sim ao serviço dos seus
accionistas. Quando este "paradoxo do capitalismo" (como lhe chamou um
professor meu) acontece, é necessária a mãozinha do estado mexer na
sagrada economia de mercado obrigando a salvaguardar os direitos e
liberdades dos cidadãos.
Podemos então dizer que a obrigatoriedade da utilização de uma licença
livre é proporcional à dependência que a sociedade tem de determinado
software.
A recomendação, essa, é sempre de utilizar uma licença livre.
Não estou a dizer nenhuma barbaridade, pois não? ;-)
O consenso?
Durante a discussão eu tinha em mente software não-essencial e de
pequena dimensão e, por isso achava exagerada a posição do Jaime e do
Rui Miguel (não a do jmce), e, por sua vez, se eles tivessem mais em
mente software com um grau de dependência maior era natural que achassem
a minha postura demasiado relaxada, pondo em causa a minha consideração
por alguns valores.
Foi isto?
Será possível atingirmos um consenso mínimo com umas diferenças
saudáveis nesta matéria?
--
Cumprimentos,
Vasco Figueira