[ANSOL-geral] Opinião: Celso, Pires de Lima e Zeinal Bava - um faz, o outro desfaz e ao terceiro não deixaram fazer

André Isidoro Fernandes Esteves aife netvisao.pt
Segunda-Feira, 26 de Outubro de 2015 - 14:01:38 WET


Mehhhh...Vale o que vale num país aonde inovar é copiar o que se faz lá 
fora...

André Esteves


http://tek.sapo.pt/opiniao/artigo/opiniao_celso_pires_de_lima_e_zeinal_bava_um_faz_o_outro_desfaz_e_ao_terceiro_na-44731hdc.html

Opinião: Celso, Pires de Lima e Zeinal Bava - um faz, o outro desfaz e 
ao terceiro não deixaram fazer
Paulo Trezentos, investigador e fundador da Caixa Mágica e da Aptoide, 
olha para a mudança da Internet em Portugal através de três 
protagonistas que marcam a passagem para a Internet 2.0.

Por Paulo Trezentos (*)



Houve uma Internet em Portugal antes de 23 de Outubro de 2015 - data da 
demissão de Celso Martinho como responsável do SAPO. E vai haver 
Internet em Portugal depois de 23 de Outubro.

Não porque tenha mudando alguma coisa num “site” ou servidor, mas pelo 
simbolismo do que aconteceu e está para acontecer.

Como em todos países do Mundo, a Internet 1.0 foi a época em que os 
negócios tradicionais (supermercados, indústria,…) tinham uma montra 
nesta rede. A Internet 2.0 é a época em que negócios são digitais e 
on-line, com ou sem vertente física.

Taxis, SMS, RTP, Bancos, Supermercados, Servidores de Ficheiros 
empresariais e CD-ROMs estão na Internet 1.0.

Uber, Whatsapp, Netflix, Crowdfunding, Amazon, Dropbox e App Stores são 
a Internet 2.0.

A mudança vai ser tão profunda como foi a revolução industrial.
Portugal vai ganhar alguns pontos e perder muitos outros nesta mudança.
A melhor forma de perceber e ilustrar esta mudança é olha-la através de 
três protagonistas que marcam esta passagem.

Celso Martinho
Cada país tem os seus heróis e o o Celso é o Larry Page e Mark 
Zuckerberg da Internet em Portugal.
Contar a história dos últimos 20 anos em que esteve à frente do SAPO é 
contar a história da Internet em Portugal. Dêem-me o desconto de ser seu 
amigo há outros tantos anos, tendo as nossas carreiras profissionais se 
cruzado múltiplas vezes.
Estávamos em 1998 quando um grupo de 20 pessoas via USENET (foruns) 
decidiu jantar no Bairro Alto para decidir fazer um portal (na altura a 
palavra da moda) dedicado a Linux, algo que unia o grupo. Celso, João 
Bordalo, Pedro Melo, Mário Valente, eu próprio, entre outros, não 
conseguiram levar o linux.pt muito além de uma página de entrada mas 
muitos dos projectos de Internet em Portugal (como a Telenet, Esoterica, 
Clix,…) tiveram-nos como protagonistas.

O legado do Celso nestes 20 anos vai para além do SAPO como projecto de 
Internet em Portugal, a frente mais visível.

O impacto que teve nesta geração foi a 3 níveis: pioneiro tecnológico, 
cultura de ambição e eventos.
Pioneiro tecnológico enquanto esteve sempre na linha da frente de novas 
tendências que foram surgindo na Internet. O “off-line to online” de 
serviços da PT, novas tecnologias (open source, segurança,…), a passagem 
para o Mobile, as páginas “responsive”, etc.. tiveram-no sempre como 
defensor.
Cultura. O facto dos projectos em que se envolvia terem sucesso, fez com 
o que tamanho das equipas que comandava fossem aumentando, chegando a 
300 pessoas. Nessas equipas foi criando uma cultura de ambição, partilha 
e profissionalismo e apenas os “melhores dos melhores” conseguiam ir 
para o SAPO. Essas equipas acreditavam não haver limites ao que com 
dedicação e talento se conseguia fazer. Até retirar o som irritante das 
Vuvuzelas nos jogos de futebol era possível. Essa cultura transbordou do 
SAPO à medida que as pessoas abraçavam novos desafios e vai perdurar 
enquanto essas pessoas o mantiverem e elas próprias o transmitirem.

Eventos. O Celso foi o criador do Codebits, o maior evento de tecnologia 
em Portugal que fez com que gerações de portugueses passassem um 
fim-de-semana por ano acordados a programar, ouvir talks e comer tacos. 
Sim, o sonho dos Geeks. Mas também foi organizador da MakerFaire em 
Lisboa e muitos meet-ups relacionados com impressão 3D, Arduinos e 
Raspberry pi. Estes eventos foram uma forma de disseminação das 
tecnologias em que foi percursor e a cultura que anteriormente mencionei 
chegarem a tantos portugueses.

A história da contribuição do Celso não acaba com a sua demissão do SAPO 
e os seus próximos projectos vão certamente continuar a mudar a Internet 
em Portugal.

Zeinal Bava
Hoje, o número de detractores de Zeinal Bava enquanto gestor é igual ao 
número dos que o elogiavam há uns anos atrás. O número é igual porque 
são os mesmos.

Nunca trabalhei directamente com ele, nunca fiz parte do seu circulo e 
nunca fui dos que o elogiaram.
Por isso, estou à vontade para ser voz contra-corrente e dizer que foi 
dos poucos gestores em Portugal que percebeu a mudança que se aproximava 
e tentou preparar a PT para essa mudança.
Quanto à parte legal do seu exercício das suas funções, não me pronuncio 
e para isso existem tribunais.
Como gestor, foi exemplar não só pela ambição de querer levar uma 
empresa portuguesa para fora de Portugal. Foi genial ao compreender que 
era preciso acrescentar valor ao negócio de voz e dados. Era preciso ter 
valor “over-the-top” prestando serviços aos clientes para além de 
transmitir bits e bytes. E apostou no Celso e na PT Inovação / PT SI 
para executarem essa estratégia.

E, sim, a PT não alcançou esse objectivo de ser um actor em múltiplos 
continentes como prestador de serviços “over-the-top”. Na minha 
avaliação, falhou não pelas decisões que tomou mas porque se gerou a 
“tempestade perfeita” que ninguém conseguiria prever ou evitar. A queda 
do accionista de referência, a crise económica em Portugal e até a crise 
política da Europa puseram fim ao principal projecto de Internet 2.0 em 
Portugal. Falhar só acontece a quem não ousa. Zeinal ousou e fê-lo com 
muito talento. E muitas coisas positivas e de valor para a economia 
foram criada com a sua liderança e no percurso que descrevi..

Pires de Lima
A Altice é um grupo de franceses que pediu crédito aos bancos para 
comprar empresas de telecomunicações, fazer engenharia financeira com as 
mesmas e revende-las daqui a 5 anos.
Ponto.

Nesse percurso, vai despedir ou fazer com que se despeçam o máximo de 
pessoas na PT, vai empossar lideranças fracas no projecto empresarial (a 
ligação à demissão do Celso Martinho é pura coincidência) e desinvestir 
de desenvolvimento em Portugal.
Durante muitos anos, e com as seus próprios defeitos e problemas 
internos, o SAPO, a PT Inovação e a PT SI acrescentaram valor à economia 
através da inovação. Em três meses, esses três centros de criação de 
valor estão destruídos irreversivelmente. Mesmo que houvesse vontade 
política e empresarial, já não é possível voltar atrás.

Sempre gostei do ministro Pires de Lima porque sempre me pareceu 
credível e inteligente. E porque, como ele, acredito que o estado deve 
intervir pouco na economia.
Hoje, é ele a cara da Altice em Portugal.

O que poderia ele ter feito ?
Quando a PT falhou no Brasil e a estrutura accionista caiu, era preciso 
perceber a visão do projeto e quais os novos accionistas que poderiam 
liderar a PT na Internet 2.0. Quem poderia liderar esta visão de 
projectos “over-the-top” de carácter global com a tecnologia dos 3 
centros de inovação da PT. Esses accionistas poderiam ser portugueses ou 
estrangeiros. Mas que ajudassem a PT, e Portugal, a dar esse salto para 
a Internet dos Uber, do Netflix que entrou esta semana em Portugal, dos 
Whatsapp e das Dropbox.

Nos Estados Unidos ou em Inglaterra, na Alemanha ou em Singapura, o 
estado intervém pouco mas fá-lo quando está em causa o interesse nacional.
Penso que o problema não é o facto do ministro vir dos Sumos e das 
Cervejas. O problema é não ter acreditado que nós, portugueses, podíamos 
ter uma palavra a dizer na Internet 2.0 e dos centros da PT poderia ter 
surgido um competidor global do Slack ou da Rocket Internet. Para o 
ministro, nós sermos empregados de Call Center em Vieira do Minho é o 
desígnio nacional.

As más noticias.
As grandes empresas e de referência em Portugal não estão a fazer a 
mudança. Ao futuro governo português cabe aprender com o descalabro da 
PT e de forma muito pontual tentar que no âmbito da sua intervenção 
possa apoiar essas empresas - como bancos, construtoras, turismo, 
fileira do papel, … - a serem actores na nova economia.

Ainda piores noticias.
Algumas empresas internacionais (como a Naspers ou a Sky), aproveitaram 
os últimos meses para instalarem em Portugal centros de desenvolvimento 
de software e contratarem os engenheiros e developers que saíram da PT.
São más noticias ? Para Portugal, muito provavelmente. Só o ordenado 
desses engenheiros fica em Portugal. As chefias intermédias e de topo, 
os fornecedores, a retribuição aos accionistas e - muito importante - os 
impostos ficam todos fora de Portugal.

As boas noticias.
Feezai, Talkdesk, Uniplace, Science4you ou Aptoide são empresas 
portuguesas e não estão no negócio dos Call Centers. Estão no negócio da 
Internet 2.0. Têm chefias intermédias e de topo, fornecedores e alguns 
accionistas portugueses. Pagam impostos. Contribuem para as exportações. 
São rentáveis e têm milhões de utilizadores. Querem conquistar o mundo 
prestando serviços a nível global e estão a contratar talento em 
Portugal e para Portugal.
A Internet do “off-line to online”, do “over the top” está aí.
E ao contrário do descalabro das empresas de referência, o ecosistema de 
start-ups está a funcionar melhor do que nunca. Os investidores 
(Portugal Ventures, Faber,…), as incubadoras (Startup Lisboa, Beta-I, 
BGI ISCTE,…), os eventos (Web Summit,…) estão a colocar Portugal no mapa.
A Internet está 1.0 está morta. Viva a Internet 2.0.



(*) investigador, professor auxiliar do ISCTE e fundador da Caixa Mágica 
e da Aptoide.



Nota da Redação: Ontem o Económico avançou a notícia de demissão de 
Celso Martinho da direção executiva do SAPO, mas a informação não foi 
ainda confirmada oficialmente por nenhuma fonte do SAPO nem da PT Portugal.





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