[ANSOL-geral] ANSOL , Plano Tecnológico e Portáteis

Nuno J. Silva nunojsilva mail.telepac.pt
Domingo, 17 de Junho de 2007 - 19:44:30 WEST


On Sun, 17 Jun 2007 18:38:11 +0100
J M Cerqueira Esteves <jmce  artenumerica.com> wrote:

> Ruben Leote Mendes wrote:
> > Em Dom, Junho 17, 2007 14:19, id3  ideias3.com escreveu:
> >> Outra coisa que não sei se estaria correcto falar aí, era passar a
> >> cadeira de TIC (Disciplina de informática básica do 9º e 10º anos)
> >> a usar software livre. De momento é tudo M$, e no ensino não faz
> >> qualquer sentido usar tecnologias proprietárias. Se eles nunca
> >> conhecerem um OpenOffice ou isso, como é que no futuro o vão usar?
> 
> Se fossem bem ensinados, se mesmo usando MS-only o ensino não
> estivesse focado "no produto", usariam mais tarde "OpenOffice ou
> isso" como os que o usam OpenOffice ou LaTeX sem terem usado um
> processador de texto no tempo em que não havia computadores nas
> escolas.
> 
> Mas há um problema ainda mais fundo do que a MS-perversão: a ideia de
> que é preciso "treinar" em ferramentas muito concretas nas escolas,
> que sistematicamente me parece sinal de calamidade didáctica.   Acho
> que nem algo como "introdução ao uso de um processador de texto"
> devia fazer parte de um programa escolar (a qualquer nível), mas pelo
> menos seria menos mau do que "introdução à versão X do processador de
> texto Y".

Concordo. A matéria abordada pode até ter títulos enganadores como
"Conceitos Básicos", mas é tudo menos isso.

Não tenho o manual a jeito de momento, mas quando o encontrar vou rever
as coisas. Se não me engano até mencionavam apenas o WinZip como
ferramenta de extracção de ficheiros comprimidos.

Em vez de abordarem conceitos como janela, apontador, barras, caixas de
verificação, rótulos, caixas de texto, núcleo (kernel), controladores
de hardware, compressão, internet, world wide web e hipertexto, para
mencionar alguns, ensina-se a janela, a barra do menu iniciar, o
formato zip com a ajuda do WinZip, o Internet Explorer, o Outlook
Express...

Altamente irritante. A minha sorte é que ao menos a docente tinha
alguma consciência e permitiu-me abordar alternativas em projectos da
disciplina, o que me permitiu manter a sanidade mental.

Escolher o Windows por ser o sistema mais usado (como diz no próprio
manual) é também algo sem nexo. No passado, em certos regimes
monárquicos, só uma pequena fatia da população tinha acesso à cultura.
Então predominavam os incultos. Conclusão lógica para essa altura,
partindo do princípio das causas actuais: escolhia-se a iliteracia por
ser a mais demonstrada.

Ninguém tem de escolher nada. Ensinem os conceitos e mostrem vários
exemplos de aplicação dos conceitos.

(Aliás, estou ainda para perceber qual a razão para escolherem o
Internet Explorer em vez de escolherem algo... mais actualizado... há
quantos anos surgiu o /tabbed browsing/, mesmo?)

> 
> E já agora, se fosse para ser o "processador Y", eu escolheria LaTeX.
> A resposta naba do costume é "mas onde é que eles vão usar LaTeX?".
> Eu poderia responder "onde é que eles vão usar Word daqui a 15 anos?",
> mas a resposta mais importante à resposta naba é que assim aprenderiam
> mais sobre a própria escrita, sobre computadores, e sobre como pensar,
> talvez ajudando-os a aprender sozinhos quando precisarem
> de aprender o que ainda não imaginamos sequer.

Eu também o escolheria. LaTeX é, simplesmente, soberbo. Ainda mais
ridículo: se dantes podia ser mais trabalhoso fazer a partir da
interface gráfica alguma coisa estruturada como se faz no LaTeX, uma
vez sentei-me à frente de um Office 2007 para ajudar um familiar meu a
redigir um relatório de uma actividade experimental. Perdi coisa de
cinco minutos a procurar as referências bibliográficas, porque uma
certa empresa considerou que o novo sistema de menus é "inovador"...

Mas como permitimos a liberdade da escolha se lhes ensinamos o X ou o
Y? Concordo que deva ser essa a questão principal neste problema. Por
mais que eu goste de ver o GNU/Linux, o OpenOffice, o LaTeX, o Firefox e
(muitos) outros, interessa-me ainda mais que os alunos tenham a
possibilidade de escolher.

> Outra resposta naba, que já ouvi na FCUL há muitos anos quando sugeri
> a um assistente que se impusesse instalação exclusiva de software
> livre nas máquinas para estudantes do Departamento de Física, foi
> "mas o que eles têm em casa é o software da MS"... ao que eu respondi
> perguntando se a FCUL queria deixar de ensinar mecânica quântica,
> física estatística, e outros tópicos que eles "não têm em casa".

Boa resposta!

<snip/>
> [Por acaso pela mesma altura descobri como o TeX era bastante mais
> potente e comecei a usá-lo, e por acaso ainda é esse que me é útil
> (mesmo que em várias encarnações) 20 anos depois para qualquer tipo
> de documento e com tipografia muito mais cuidada que as dos
> utilizadores "treinados" de outro ferramental mais, digamos,
> "sofisticado".]

A mim foi-me introduzido por um professor que sugeriu o uso dessa
"ferramenta" para os relatórios. Uns, porque queriam "ficar bem vistos"
foram tentar passar pelo pesadelo de a instalar (claro, usavam o
Windows...), eu como já a tinha usada também a explorei, e nunca mais a
larguei.

> 
> > Pelos vistos TIC vai passar para o ensino básico. Talvez seja uma
> > boa oportunidade para passar também para software livre.
> 
> Mas também para aprenderem a ler, escrever, e contar.   Parece haver
> uma corrente que acha que com os meios informáticos se podem saltar
> passos da educação.  A criancinha tem calculadora gráfica, portanto
> deve poder saltar por cima de uma fase de representação gráfica
> fastidiosa, manual, de uma função e usar logo a calculadora para lhe
> "desenvolver a intuição".  Idem ainda mais cedo, com a mera
> aritmética.

Lindo são também os manuais de matemática que sugerem actividades com
programas para Windows, alguns deles comerciais. E nunca vi nenhuma
referência ao GnuPlot nem ao jps2ps nem a outras ferramentas úteis.

> 
> Só que a intuição vem muito do "passar [com vagar] pelas mãos".
> Claro que, depois de fazer sem a máquina, experimentar com a máquina
> pode (pelo menos para alguns) dar naturalmente resultados
> interessantes; resultados milagrosos para suprimir passos "dolorosos"
> é que não convém esperar.

Ehe :-)
Eu quando olho para a "beleza" da minha TI 84+ SE ainda penso: mas isto
é uma calculadora?

Para além de vivermos num ensino de matemática em que nem se ensinam
algarismos significativos, também tenho de aturar calculadoras que bem
podiam ajudar mais nos cálculos... é que eu adoro os resultados
interessantes... números que sempre convinha apresentar como múltiplos
de \pi (ângulos em radianos, por exemplo) - sempre se poupava o
trabalho de copiar os (apenas dez!) dígitos que a calculadora nos
proporciona...

> 
> > "A disciplina de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) é
> > transferida do ensino secundário para o ensino básico,
> > considerando-se ser a esse nível que deve ser adquirida a formação
> > essencial nesta área, apostando-se na transversalidade da
> > utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação no nível
> > secundário de educação." [0]
> 
> Ouch.  Bestas info-excluídas com poder de decisão, é o que apetece
> dizer.

Isso quer dizer que vamos ter mais do mesmo. Gente que nem o Word sabe
usar, e que metem "www.google.com" na bibliografia.

Pior é impossível...

-- 
Nuno J. Silva
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