[ANSOL-geral] CDs, copying, etc

Gonçalo Valverde goncalo.valverde gmail.com
Segunda-Feira, 10 de Abril de 2006 - 11:21:18 WEST


Acho que existem aqui dois niveis de discussão que importa ter em
conta e não confundir.

A primeira é o caso de quem se apropria de uma obra alheia e a vende
como se fosse sua, ou obtem lucro de alguma maneira.
O segundo caso é alguém que não o autor desfrutar de uma obra
musical/cinematográfica/etc sem pagar por ela e partilhar a mesma com
outrem.

Se o primeiro caso penso que todos estaremos de acordo que não é
correcto e deve ser punido (e tal pode e deve ser correctamente
apelidado de pirataria) já o segundo caso não é tão liquido pois
entramos por conceitos como qual é o objectivo de um artista.

Em última análise, parece-me relativamente obvio que alguém enquanto
artista tem como objectivo que o seu trabalho seja conhecido e
desfrutado pelo maior número de pessoas. Ou seja, éticamente não
existirá nada de condenável em partilhar a obra de um artista com
outras pessoas a menos que o artista tenha feito a obra explicitamente
para uma pessoa (i.e. se por exemplo fez um poema de amor dedicado a
alguém, obviamente que não irá achar piada que o mesmo seja
distribuido por meio mundo).

No meu entender, o problema surge com a mercantilização da cultura, e
o facto de se encarar um objecto de arte como uma mercadoria sobre a
qual se deve e pode extrair o maior lucro possível.
Isto em nada está relacionado com o facto de um artista ter o direito
de ser pago pelo seu trabalho, algo que não me parece que ninguém no
seu juizo perfeito esteja contra. As pessoas necessitam de comer,
dispenderam dinheiro na produção das obras de arte, etc.

O Pedro diz que não vê nenhum problema que um artista pegue na obra
que desenvolveu e cobre um valor X que até pode ser 10 vezes superior
ao custo de produção. Mas aqui estaremos a falar de arte? E deverá ser
o motivador para a produção de uma obra de arte o lucro? No modelo
social actual, a resposta será relativamente obvia, mas isto será a
forma correcta de encarar a questão? Do meu ponto de vista, a resposta
é claramente não.

A mercantilização da cultura embora possa ter potencializado a sua
massificação (e o facto da cultura estar mais acessivel a todos é algo
de positivo no meu entender) por outro lado levanta problemas
associados que estão a ser claramente ignorados em todo este debate. E
claramente que a questão do P2P vem colocar a nú estes problemas, pois
demonstra que é possível criar um sistema de distribuição cooperativo
que em última análise realiza muito mais o objectivo de um artista que
o sistema anterior. O problema é que neste sistema quem vive à custa
do trabalho alheio (ou seja as grandes editoras) vê o seu lugar no
sistema colocado em causa. Tendo em conta que um artista por norma
recebe uns miseros 6 a 10% do fruto da sua criação e, tendo em conta
que alguém ao distribuir música gratuitamente não só não está a obter
receita com isso, como está inclusivé a dispender recursos seus para
tal, coloca-se a questão de quem é que são os verdadeiros piratas. E
se é verdade que existe muitos músicos que estão contra o P2P, também
não deixa de ser verdade que existe quem o apoia o mesmo (veja-se por
exemplo o caso do Downhill Battle)

Claro que podemos sempre tentar arrumar o assunto dizendo que este é o
modelo social que temos e que não existe nada a fazer.. Mas se a
história demonstra é que nada é imutável, e estamos muito longe de ter
chegado ao fim da história (ao contrário do que o outro senhor
pensava).



Mais informações acerca da lista Ansol-geral