[ANSOL-geral] CDs, copying, etc

pedro mg seti tquadrado.com
Sábado, 8 de Abril de 2006 - 01:21:29 WEST


Sex, 2006-04-07 às 21:34 +0100, Rui Miguel Silva Seabra escreveu:
> On Fri, 2006-04-07 at 16:51 +0100, pedro mg wrote:
> > artista. Continuo com a visão do roubo. E roubo é roubo. Se é roubo de
> > objecto físico ou de bits de dados, não vejo grande diferença, daí que
> > use o exemplo do pão, roupa ou automóveis para exemplificar.
> 
> Péssima interpretação, pior analogia.

Referi que esse exemplo deve ser dado a pessoas sem capacidade para
interpretar a imaterialidade da coisa... e olha que as há, e muitas.
Como é que explicas a uma plateia que não podem obter/vender/dar cópias
ilegais de filmes ? Mas de modo a que tenhas a percepção que ficaram com
alguma coisa mais ou menos lógica na cabeça.

> 
> Ao contrário de bens físicos, como o pão é sem qualquer sobra de dúvida,
> se tu me contares algo, ficamos os 2 a saber algo.
> 
> Este é o ponto basilar da coisa: os bens imateriais não podem ser
> roubados. Qualquer analogia com bens físicos quebra perante o teste da
> materialidade.

O Mozart escreve uma partitura. O Salieri rouba-a. Publica-a como sendo
sua. Há roubo de propriedade intelectual ? 
Ou de modo diferente, o Mozart cria, regista, vende, e o padeiro coloca
a "Great Mass" ou o Requiem no seu PCzito e abre-o a quem quiser puxar
essas obras sem autoriação do Mozart. É legal ? É moral ? Repara que não
estou a referir editoras.

> 
> O melhor que podes alegar é um (potencial) não lucro. Mas tendo em conta
> que a vasta maioria dos artistas não subsiste graças às obras que faz,

Essa afirmação parece-me imprecisa porque teríamos de ver a que é que
estás a chamar "artista".

> mas sim com espetáculos, com estátuas a pedido, etc... e não com
> "cópias" do que fazem, então alto e para o barco porque o "lucro" nem
> sequer existe para ser perdido.
> 
> >  Suponhamos
> > então que se elimina o agente/editora do circuíto e só fica o artista
> > que grava os cd's em casa e os coloca à venda via web e correio normal.
> 
> Acontece que o meio de transmissão ideal da obra em formato digital é a
> rede e não o CD. Com os players de MP3 a serem mais vendidos que os
> players de CDs portáteis, queres mesmo convencer que pode existir
> negócio com futuro à base de vendas de cópias de CDs?
> 

claro que não. O cd está morto. O dvd não vai durar muito. Isso é
evidente. Eu disse o contrário ? Então ? É o que dá não estarmos a uma
mesa... e estar a ler sem expressão :)
Por isso disse que o mercado reinventa-se. Mas o facto de haver redes e
p2p e mp3 e bits implica que as coisas sejam "de borla" ?!? É *só* aqui
que parece que colidimos. O "formato" não me interessa. Uma vez mais
digo, só me interessa o produto imaterial que vai representado nesses
dados, só me interessa a *informação*.

> Olha a Naxos... tão famosa e com a sua colecção completa no
> emusic.com ...
> 
> > Converso com muitas pessoas que "usufruem" deste tipo de venda, e acham
> > que estão a fazer uma grande coisa ao comprar tão barato. É isso que me
> > irrita pela patetice da coisa.
> 
> "barato"? 1 USD / música é caro para o salário médio português ok?
> Só nós burgueses é que nos podemos dar ao luxo de pensar que é barato.

É pá, então ?! Estava a referir-me à patetice de comprar dvd's gravados
num vão de escada e vendidos ilegalmente. Há "trolhas" que chegam a casa
ligam o PC e conseguem fazer mais 60 contos/mês com essa actividade. Há
estudantes a fazer o mesmo. Há até o filho de 12 anos de uma pessoa que
trabalha numa multinacional que conheço que comprou o seu próprio PC a
vender filmes e jogos duplicados por ele...
Isso é imoral: o pai acha o filho um génio, e nem me interessa se o moço
vai lançar uma OPA ao Belmiro, mas... o que está a fazer é errado se fôr
com conteúdo protegido por direitos de autor e o autor não lhe dê
autorização para duplicar a obra.

> 
> > O mundo é complexo demais para se querer que tudo seja barato e
> > acessível. Se um artista passa 30 anos da sua vida a aperfeiçoar uma
> > técnica que só ele entre muitos passa a dominar, e decide vender um cd a
> > 40 euros, não acho que isso seja algo ilegal que ele esteja a fazer.
> 
> Boa sorte. A esse preço ou tem muita música e é muito fenomenal, ou
> morrerá de fome senão fizer concertos live!

Tu compras música clássica ? Olha que há coisas muito caras... Fala com
um melómano... Porque raio tem tudo de ser na base do Continente, ou do
LIDL ? Segmentação de mercado é um conceito que existe e faz sentido. 
Mas claro que fazem também concertos e muitas outras coisas. Se eu quero
juntar uma orquestra de topo, com maestro de topo, vou ter de lhes pagar
bem. Ora se vou vender essa produção a um acervo limitado de ouvintes,
terei de ter um preço alvo elevado. Há mal nisso ? Pode ser pensar de
uma forma politicamente de direita, mas os músicos dessa orquestra vão
levar um valor por esse trabalho, e não se sentem responsáveis por 90%
da população portuguesa não ter meios para adquirir o produto. Deixam de
trabalhar ? 

> 
> > Acho que é ilegal é que alguém duplique essa obra e a venda por 10
> > euros, e penso que é uma falta de respeito que alguém a compre por esse
> > valor. Mal por mal, que se duplique sem lucrar com isso...
> 
> A minha opinião é que a partilha não comercial nunca deveria ser
> perseguida.

Essa afirmação pode muito facilmente ser mal interpretada. 

> 
> > Os combustiveis estão caríssimos. Se uma estação de serviço estivesse
> > com um funcionário cego, era legítimo encher o depósito e fugir sem
> > pagar, mesmo que o preço por litro seja um roubo e represente lucros
> > colossais para por exemplo uma Galp ou Estado ? O combate não deve ser
> > por outros meios.
> 
> Analogia completamente errada.

Uma vez mais, é a comparação de produtos de uma forma o mais elementar
possível. Produtos físicos com produtos intelectuais e apropriação
indevida da coisa.

> 
> > Pode-se ouvir música na Web de forma totalmente legal. Temos o Pandora
> > http://www.pandora.com que é excelente e paga todos os direitos (segundo
> > o criador num podcast do Leo Laporte/Amber Macarthur), e temos serviços
> > como o http://www.live365.com com rádios temáticas. É o que tenho
> > consumido nestes tempos :) E é legal. E há bandas que colocam músicas
> > nos seus sitios oficiais para download. Os meus últimos são os Sigur
> > Ros :)  E sim... já não me lembro da última vez que comprei um CD, mas
> > filmes, faço-o regulamente (promoções da FNAC).
> 
> emusic.com
> www.magnatune.com
> etc...
> 
> > Também tenho dezenas de CD's
> 
> Eu tenho centenas de CDs neste momento, e o rácio de compras CD/ANO
> diminuiu fenomenalmente por ser-me cada vez mais difícil comprar um
> disco de algumas bandas que gosto, que infelizmente sucumbiram à
> corrupção de formatos.
> 
> > Uma vez mais digo: o combate à "pirataria" benificia os movimentos Free
> > Software.
> 
> Mas utilizar termos como "pirataria" serve o inimigo, por ajudar a
> difundir a mentalidade onde a cópia não autorizada se deveria enquadrar
> no mesmo esquema criminal (quanto mais não seja na percepção do cidadão
> comum) que o de um pirata (do ar, do mar, etc...).

ok... então ajuda-me, como posso chamar "à coisa" (salvo seja) de uma
forma simples para que as pessoas percebam ?

> 
> > O último email com uns comentários sobre IVAs
> 
> A redução do IVA é beneficial tendo em conta outras obras, mas não é um
> factor significativo, e lojas como a FNAC só aderem a isso por imagem.

Eu vou reenviar para a lista o email que escrevi ao Carlos Patrão sobre
o IVA. Mas em resumo acho que a redução do IVA *só* vai benificiar que
já compra, porque assim consegue comprar mais barato. Já é bom, mas tem
pouco impacto. Quem não compra e só duplica (ou compra as tais patetices
mal duplicadas e com legendagem acéfala), ou compra cópias ilegais não
se interessa minimanente com reduções de 16%...

> 
> No entanto uma parte muito mais significativa que o IVA é o lucro da
> loja... pensem nisto antes de defender cegamente o IVA.

O IVA é limitado, mas tem de se fazer qualquer coisa pela via legal. E
este é um dos passos. E até bastante construtivo, porque tenta-se dar a
entender que a cultura deve ter o menor número de barreiras possíveis
para atingir a população.

Quanto à loja... (suspiro)... estás a entrar no factor negócio. E por
exemplo uma FNAC pode dizer que tem de vender a esse preço para
conseguir ter as lojas que tem, e pagar aos funcionários, criar riqueza
para prevenir tempos difíceis,... Por aí não chegas lá. Eles nunca vão
ouvir alguém dizer: não tenha tanto lucro. Só se venderem menos, mas
mesmo eles estão a vender já ficheiros unitários de música.

> 
> > Muitos artistas, de músicos a escritores são explorados por editoras.
> 
> Descreves a norma, e não uma excepção com grandes números.
> 
> >  É
> > como nós com os preços dos combustíveis. Ou da electricidade. 
> 
> Não.

Rui, preciso que me cries um exemplo para que possa explicar a pessoas
que conheço (são quase todas formadas) o caso da música e filmes.
Software é *fácil* de explicar. Se não querem comprar o MS-Office porque
é caro, não devem usar uma cópia ilegal. Devem usar o OpenOffice por
exemplo. 
Em relação aos filmes, que exemplo dou ? Não há o Solaris Free (livre),
ou há ? Poça!!! Por acaso agora há o da Sun :D he he he... Mas estou a
falar do Solaris realizado pelo Tarkovsky ou pelo Soderbergh. Eu não
tenho cópia ilegal. Vi-o no cinema, e esperei para o ter a preço
acessível. Esperei... esperei... e comprei-o na FNAC a 8 euros. E fiquei
todo contente. E respeitei os autores. E até dei algum lucrozito à
FNAC :) Mas não o fui duplicar dizendo que a FNAC é bandida porque tem
muito lucro. Joguei pelas regras... fui paciente. Estou a fazer mal ?

-- 
pedro mg




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