[ANSOL-geral]Empresas e lobos

Jose' Sebrosa sebrosa arroba artenumerica.com
Fri, 15 Feb 2002 15:00:41 +0000


João Leitão wrote:
> 
> > (Em meta-discussões recorrentes entre mim e o Sebrosa, ele vai repe=
tindo
> > que também as empresas são pessoas e eu vou repetindo que não s=
ão...).
> 
> Uma matilha de lobos não são lobos, são uma matilha. Mas não há=
 uma matilha
> de lobos sem haver lobos.
> 
> A dinâmica da matilha é diferente do somatório das dinâmicas do=
s lobos :-)
> pois existe influencia de uns nos outros.


Nao tinha lido isto (nao admira, pois nao tenho lido nada, hehehe!).

Resposta para situar a coisa no seu contexto:  A afirmacao "eu ponho os
interesses das pessoas `a frente dos interesses das empresas" banalizou-se, e
para mim e' hoje uma das mais horrorosas manifestacoes do falar
politicamente-correcto, pois e' uma coisa que, apesar de absurda, fica mesmo
mal contrariar e chega a ser usada como argumento para acabar com discussoes. 
No entanto, a afirmacao e' completamente absurda.  Os interesses das empresas
SAO interesses de pessoas -- obviamente, das pessoas que sao *donas* da
empresa, menos obviamente das pessoas que sao *empregadas* da empresa, e ainda
menos obviamente de todas as pessoas que beneficiam da actividade da empresa,
como por exemplo (mas nao so', longe disso!) os clientes.  Ou seja, afirmar que
se colocam os interesses das pessoas `a frente dos das empresas e' o mesmo que
afirmar que se colocam os interesses das pessoas `a frente dos das pessoas.  E'
um rematado disparate.  Nao devia ser proferido nunca, e muito menos como
"argumento definitivo" que resolve questoes.

Se a coisa nao for suficientemente clara, tirem do texto a palavra "empresa" e
experimentem meter outro tipo de comunidade no seu lugar.  Por exemplo,
"aldeia". Isto deve ajudar a afastar a sombra do "raciocinio politicamente
correcto" e clarificar a verdadeira natureza do problema.  Suponha-se que a
malta vive agrupada em aldeias, cultiva os campos ali `a volta, etc.,  essas
coisas todas que fazem as delicias dos sonhos utopicos dos anarcas e
ecologistas.  Entao estariamos a dizer que "pomos os interesses das pessoas `a
frente do da aldeia".  No entanto, as pessoas beneficiam muito em viver na
aldeia -- alias, a aldeia nao surgiu do nada, apareceu porque as PESSOAS
tiveram INTERESSE nisso!  Por exemplo, quando os telhados se estragam no
Inverno, as pessoas teem mais facilidade em reunir os outros aldeoes para
fazerem a reparacao.  O Homem e' um animal gregario e isso e' bom.  Dizer que
se poem os interesses das pessoas `a frente do da aldeia e' dizer que se a
aldeia tiver que se lixar (desaparecer, ser destruida, o que calhar) para
evitar incomodar, minimamente que seja, uma pessoa qualquer, nao se hesita e
deixa-se cair a aldeia.  Resultado, as pessoas passam a viver dispersas e
deixam de ter a seguranca relativa que lhes dava a COMUNIDADE.  As
consequencias praticas do raciocinio simplista e', claro esta', lixarem-se as
pessoas que tao acirrada quanto ingenuamente se queriam proteger.

Em suma, a afirmacao de que se poem as pessoas `a frente das empresas e' uma
barbaridade que, por estar tao vulgarizada, eu combato sempre que posso.  A
questao NUNCA E' de empresas versus pessoas, e' SEMPRE de pessoas versus
pessoas.  E' sempre um conflito de interesses entre pessoas.  E claro, os
conflitos de interesses devem ser resolvidos da melhor forma possivel, mas ha'
sempre quem fique prejudicado -- senao nao era um "conflito".  Todos teem que
ceder para que as coisas se resolvam.


Cumps.,
Sebrosa